tag:blogger.com,1999:blog-45619981907508528242024-02-20T12:22:06.679-08:00BoianselmoBoi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.comBlogger26125tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-55400467575129849812012-02-11T08:09:00.001-08:002012-02-11T08:10:22.200-08:00A MORTE PREFERE COCA-COLA<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; ">- Isso me parece sério – diz meu amigo André ao meu lado.</span><p class="MsoNormal"><span style="font-size:12.0pt;line-height:115%;font-family: "Times New Roman","serif""> - Tá doendo? – pergunta meu outro amigo, Ibraim<br />- Tá sim – responde André.<br />- Então é melhor ir ao hospital – sugiro por final.<br />Minha mãe uma vez disse que pronto-socorro de hospital estadual é tudo a mesma coisa, e concordo com ela. Muito desarrumado, muito sujo (especialmente em tons de vermelho sangue) e muita gente amontoada e gemendo.<br />Chegamos ao hospital São Paulo e fomos pegar nossa senha. Sentamos.<br />Dou uma bela olhada nas pessoas do saguão e vejo seus rostos fechados, alguns retorcidos e a falta de esperança pairando em volta deles. Noto também um vulto alto e negro que se destacava do resto das pessoas por carregar uma foice grande e reluzente. Ninguém parece notar sua presença. O vulto encara uma velha sentada na mesma fileira que nós, a velha olha de volta e balbucia algumas palavras, ela a toca no rosto com seus dedos ossudos, a velha dá um suspiro de alívio e morre.<br />Um homem ao lado grita: Meu deus! Ela morreu!<br />Enquanto os médicos chegam pra examinar a velha, uma comoção toma conta das pessoas no lugar e elas começam a falar alto e num tom assustado de como aquilo tudo era horrível e de como a morte era ruim. Eu por outro lado acho que a morte não é ruim, tudo o que vem antes dela sim; e se tem alguma coisa totalmente neutra nesse mundo é a morte. Ela simplesmente chega, faz o que tem que fazer e vai embora, tudo muito simples, rápido e fácil, sem sentir nada por isso. E foi exatamente o que ela fez ali.<br />Depois de um tempo quando a comoção das pessoas passou começaram as piadinhas infames para com o sofrimento das outras pessoas. Passamos a dar nota ao estado delas. Quando maior a nota, pior o estado.<br />Muitos carros chegam ao hospital (nos carros chegam os piores pacientes) e isso era péssimo, porque quem chegava de carro já era encaminhado direto pra um médico. Um carro bonito, novo e elegante chega e esperamos pra ver quem desce dele. Era um velho que julgamos ser o próprio Tutankamon, e só não parecia morto porque gritava bastante de dor. Pra esse nós demos nota 10, o que foi a única unanimidade da noite. “Acho que vão mumifica-lo agora”, alguém acaba dizendo.<br />As notas continuam: “esse merece um 5”, “ela nota 7”. “Se liga! Ela tá melhor que a gente”. E assim as horas foram passando.<br />Tutankamon volta. Mas agora grita menos e parece um pouco mais vivo, e para uma múmia isso é um fato a ser comemorado. Entra no carro, ou tenta, pois ele não se curva o suficiente e bate a cabeça várias vezes no teto. Vendo a oportunidade digo: “É, rigor mortis não é fácil”. Meus amigos riem.<br />De repente algo me chama a atenção. Era a morte voltando. Ela balança a cabeça e vem na minha direção. Congelo na hora. Um suor frio começa a descer pelas minhas costas. Ela dá um passo à frente e eu dou um passo pra trás. Ela dá mais um passo à frente e minhas costas encostam na parede. Fico imóvel. Ela me dá uma bela encarada, do mesmo modo que a noite te encara em noite de lua cheia, só que naquela noite não tinha lua alguma. Ficou assim durante algum tempo e percebo, que na verdade, ela estava sorrindo pra mim. Sorrio de volta, pois sabia que aquela não seria a minha vez. Alguma coisa parece ter chamado sua atenção em outra sala e a vejo se afastar apressada em direção à UTI. Demoro um tempo pra me recompor. Digo pros meus amigos que foi só um mal- estar e que um pouco de ar me deixaria melhor. Essa passou perto.<br />Do lado de fora fico me perguntando pra quê se dar ao trabalho de ir ao hospital se vamos todos morrer de qualquer jeito.<br />Umas crianças de rua que estavam por ali passam por nós e sorriem pra gente. Nós sorrimos de volta. Elas, assim como nós três, eram as únicas pessoas se divertindo naquele lugar.<br />Chamam o nome do meu amigo. Era a nossa vez. Eu fui junto com ele, o Ibraim decidiu que era melhor ficar lá esperando.<br />O médico não parecia muito mais velho que a gente.<br />Algumas pessoas estavam na mesma sala que nós. Um cara urinava por um tubo, uma velha que parecia ser a mãe das crianças lá fora estava muito abatida e anunciou:<br />- Acho que vou vomitar.<br />- Se ela for vomitar – eu disse – acho que vomito também.<br />- Vamos lá Dona, nada de vomitar aqui.<br />Ela não vomitou e eu fiquei aliviado. Os médicos também.<br />Meu amigo ficou com vergonha da consulta dele. Tanta gente lá morrendo e ele de pé sorrindo. Com um calombo no peito.<br />Quando a consulta acabou saímos da sala em direção à recepção. No caminho vejo sangue – muito sangue – saindo do corpo de uma garota que estava sendo levada às pressas pra cirurgia. A morte vinha apressada atrás dela. Quando ela passou por mim fiz um gesto de despedida respeitoso e silencioso em sua direção. Não teria como saber se ela viu.<br />- E aí, como foi? – pergunta o Ibraim.<br />- Não foi – respondi – ele não tem nada.<br />- Não vou morrer por isso, o médico só me passou alguns remédios.<br />- Vamos dar o fora daqui então.<br />- E rápido.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:12.0pt;line-height:115%;font-family: "Times New Roman","serif"">Os personagens aqui citados são todos reais. Sobretudo a Morte. Mas apesar de não poder vê-la, eu a senti, ainda mais que ao ir embora, um barulho me chamou a atenção. Olhei em volta e vi a máquina de refrigerante se mexer sozinha, Vi também uma coca-cola cair pelo buraco sem ninguém estar por perto – ninguém parece ver ou se importar com aquilo -, então dou um sorriso, pisco e saio correndo dali.<o:p></o:p></span></p>Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-68302263880353326512011-02-20T16:16:00.001-08:002011-02-20T16:37:50.774-08:00EXTRAS<div style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; background-color: transparent; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; "><span class="Apple-style-span"><span id="internal-source-marker_0.7180971093475819" style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; ">Tudo começou com uma ligação.</span><br /></span><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>- Daniel?</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>- Depende.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>- Tenho um bar e estou precisando de alguém para trabalhar amanhã. Pode ser você?</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>- Tudo bem. Mas eu preciso de um trabalho fixo. Não dá pra ficar trabalhando como extra só nos finais de semana.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span> - Aparece amanhã que a gente conversa.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Ele me passou o endereço e horário. Desliguei. Já tinha decidido que não iria mais fazer esse tipo de serviço. É degradante demais, mas depois do último emprego não havia me sobrado nada de grana. E preciso de cervejas e cigarros, assim como a maioria das pessoas, das que bebem e fumam, pelo menos.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Dia seguinte lá estava eu na porta do lugarr fumando um cigarro e me perguntando constantemente “que merda eu estou fazendo aqui?”. Uma pessoa com o meu intelecto e potêncial deveria estar apenas nos mais altos cargos, como capitão de navio baleeiro japonês ou dono de uma plantação de papoulas nas montanhas. Mas não. O destino já havia reservado algo pior. Ok, decido entrar.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Conversei pessoalmente com o babaca do telefone e fui logo jantar.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Pô, nada mal. Almôndegas! Sempre gostei delas e tenho certeza que elas também gostam de mim. Sempre apreciei uma boa refeição e esse foi um dos motivos pelos quais saí do meu último emprego. Os filhos da puta começaram a diminuir a comida e depois tiveram as manhas de diminuir os pratos, o que foi demais pra mim. Isso e a mulher que eu estava ter me trocado por outra mulher. Isso foi novidade na minha vida, e acreditem, não é melhor ou mais fácil ser trocado por outra.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Conheci os caras que eu iria trabalhar no bar e logo de cara fui com a cara de um deles, o outro era só mais um cuzão igual a outros cem mil cuzões que nada de interessante tem a dizer. Poderia ser pior. Os dois poderiam ser cuzões, mas eu sempre penso o contrário. Por que os dois não poderiam ser gente fina? Mas não é assim que o universo funciona. Provavelmente por causa daquela baboseira oriental. O mundo perfeito (já havia percebido isso) se restringe ao mundo dos bem de vida. Eles podem construir um mundo perfeito e bonito ao redor deles e excluir todo o resto. Os filhos da puta! O mundo sempre parece mais bonito dentro de um conversível.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Seis horas em ponto e eu começo a trabalhar. O começo é devagar e tranquilo, me dizem que três bandas irão tocar na noite e dizem que eu vou gostar delas. Também me dizem que o lugar fecha às cinco da manhã e que eu “provavelmente” sairia antes.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Mais gente entra e a primeira banda começa a tocar. Credo!, pura merda atrás de merda, o público parece concordar comigo.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Foi aí que entre um drink e outro começo a perceber o público. Meu deus!, é o paraíso das gostosas. Mulheres maravilhosas por todos os lados. Fico me perguntando se teria alguma chance com elas...</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Simplesmente depois de um tempo não dá tempo para apreciação.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>- Cinco cervejas. Dez cervejas. Vinte...</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>E por aí vai.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>A segunda banda era bem melhor e o lugar começou a ficar realmente cheio. Começo a ficar preocupado.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>- Isso aqui ainda tá tranquilo, tem que ver nos dias de pauleira - diz o cara gente fina.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>- Não quero ver - respondo. Talvez o cara nem fosse tão gente fina assim.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>O cuzão só dá risadas.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Quanto mais eu olho, mais vejo mulheres fenomenais cercadas por caras imbecis com cara de idiotas. Esses malditos nunca tiveram que levantar uma caixa, se sujar de graxa ou gordura, cortar 100 limões por noite. Todos eles eram brancos, limpos, bem alimentados e barbeados. Percebi que eu não era o bio tipo de homem que frequentava aquele lugar. Que se foda!, aquele não era o tipo de lugar que eu frequento, se bem que todas as mulheres bonitas da cidade parecem que estão lá.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Tento não olhar para o relógio o máximo possível e me concentrar no trabalho para não ficar desapontado, mas acabo olhando e fico realmente desapontado. Não é nem meia-noite ainda. Eu realmente preciso de um cigarro e decido que eu mereço um. Saio por conta própria.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Do lado de fora acendo um cigarro atrás do outro e fico apreciando as mulheres. Como são lindas e fúteis, uma péssima combinação, uma vez que sou feio e tento ser o contrário de fútil. Eu nunca irei ganhar nehuma delas desse jeito.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>A terceira banda entra e eu fico com a sensação de que não vou aguentar até o fim da noite.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span>Continuo trabalhando do melhor jeito possível, só que daí eu olho pro lado. Quase tenho um ataque cardíaco fulminante do miocárdio quando no balcão eu vejo a mulher perfeita. Consegui achar a mais linda num oceano de mulheres lindas. A sorte grande. O rosto me lembrava alguém que eu já tinha conhecido há muito tempo atrás. Corpo escultural, mega peitos e bunda, quase da minha altura. Ela ficou boa parte da noite do lado do meu balcão conversando com uma amiga e eu não conseguia tirar os olhos dela. Penso em falar com ela, mas eu sabia que não teria chances e acabaria fazendo papel de idiota (coisa que eu nunca me importei), mas ela era diferente. Ela estava acima de todos os mortais.</span></p><p style="text-indent: 36pt; text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; ">Aparece um idiota e começa a conversar com ela. Penso em pular o balcão e dar uma garrafada na cabeça do sacana, mas achei que ela iria fazer algo parecido, pelo menos a princípio, mas depois começam a dar risada. Agora fodeu. Vejo uma aliança na mão esquerda dela, mas isso nunca impediu ninguém de trair. Do que será que eles conversam? Viagens ao exterior? Feriado em búzios? Nunca vou saber. Eu nunca saberia como abordar uma mulher daquele calibre, não sem antes beber horrores. Ficam conversando por muito tempo e ainda vejo esperança. Mas meu navio afunda quando eles se beijam. Isso não deveria me afetar em nada, afinal aquelas pessoas não me dizem nada, mas fico com um nó na garganta. Deixo tudo pra trás e vou fumar mais um cigarro. Já vi isso acontecer por tempo demais comigo. As mulheres, mesmo aquelas que eu nem conheço, exercem uma estranha fissura em mim, me afetam demais, e isso nunca é bom. Poderia ser pior, quando da vez em que trabalhei por duas noites num lugar cheio de caras gordos, peludos e bichas (ursos) se beijando e se esfregando sem camiseta na minha frente (e não havia ninguém que chegasse neles e falasse: “Cara, isso o que vocês estão fazendo é errado!”). Ou da vez em que trabalhei num restaurante onde no fundo havia um daqueles espelhos que de dentro não se via nada, mas de fora se via tudo, e eu ficava lá fora batendo punheta vendo as gostosas dançarem do lado de dentro. Era a punheta perfeita, até me descobrirem...</span></p><p style="text-indent: 36pt; text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; ">Resolvi voltar, não olhar para o lado e me concentrar no trabalho. Aquelas gostosas não faziam idéia do dano psicológico que estavam me causando.</span></p><p style="text-indent: 36pt; text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; ">Não acredito quando às quatro e vinte me mandam pra casa. Fico tão feliz que toda a raiva e ódio dentro de mim simplesmente desaparecem. Mas não por muito tempo.</span></p><p style="text-indent: 36pt; text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; ">Ganho a rua e vejo que só tem uma pessoa sem carro ou grana pra táxi. Acho melhor andar um pouco. Andar é sempre bom pra manter a saúde mental. Principalmente depois de uma noite daquelas.</span></p><p style="text-indent: 36pt; text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; ">Ando, me perco, ando mais um pouco, me acho e continuo andando. Vejo um mega acidente e penso que tem pessoas tendo uma noite pior do que a minha. Tudo bem, tudo bem...</span></p><p style="text-indent: 36pt; text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; ">Depois de alguns quilometros acho a avenida que estava procurando e pego um ônibus até em casa. O gosto de merda na minha boca me acompannha o caminho inteiro, tudo por causa das gostosas que nem sabem que eu existo. No ônibus as pessoas são menos saudáveis e bonitas, mais parecidas comigo e sinto uma certa empatia por todas elas. Assim como eu, elas se dirigem para a parte menos bonita e elegante da cidade, indo ou voltando do trabalho. Somos todos incrivelmente mais fortes e corajosos que aqueles babacas que eu passei a noite servindo. Somos de outra estirpe, a estirpe dos sofredores. Sofremos com o trabalho, com nossas casas, com nossa falta de sorte na vida e nossa falta de sorte com as mulheres, e isso me faz sentir como sendo muito melhor do que todos eles, e no dia em que eu convencer suas mulheres disso, aí sim eu me sentirei um verdadeiro vencedor.</span></p><p style="text-align: justify; margin-top: 0pt; margin-bottom: 0pt; "><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman'; background-color: transparent; font-weight: normal; font-style: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre; "> </span></span></p></div>Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-82428176664485813822008-11-10T21:06:00.000-08:002014-11-12T09:09:10.579-08:00MALDITO ARMÁRIOOk, ok, eu sei que tenho esse péssimo hábito de cutucar meu nariz. E faço isso todas as noites mesmo antes de eu saber o que eram noites. E o pior que, por pura força do hábito, acabo fazendo isso na frente dos outros sem perceber. É terapêutico, é relaxante. Não, não, o pior mesmo é que ao invés de fazer uma bolinha e jogar por aí (pessoas educadas limpam num papel higiênico) eu faço uma bolinha, brinco um pouco, e depois grudo em algum lugar.<br />
Lembro de uma vez em que não fazia muito tempo estava trabalhando num escritório e estava sozinho na sala do chefe e coloquei uma estrategicamente no batente da porta, num lugar onde não deveria ser visto e saí. Só que a faxineira viu, correu pro banheiro e vomitou. Cinco minutos depois reunião. Meu chefe só juntou os homens, porque ele preferiu imaginar que mulher nenhuma teria feito aquilo. Daí ele começou:<br />
- Eu não vou citar nomes – BOI – de quem fez isso. Eu não sei quem foi – BOI! Mas por favor, quem fez isso – BOI – nunca mais faça de novo.<br />
Eu neguei até à morte. Não queria perder meu emprego por uma catota mal posicionada.<br />
Uma vez, não faz muito tempo, achei umas fotos do meu 1° aniversário. Eu olhava praquele pirralho cabeçudo e magrelo e não conseguia me identificar. Poderia ser qualquer outra criança de 1 ano. Mas em uma das fotos eu estava meio que escondido atrás do meu pai, com cara de culpado, e com o dedo no nariz. Eu vi aquilo e gritei:<br />
- Puta merda! Esse só pode ser eu!<br />
Mas de noite que as coisas ficam realmente boas. Toda noite antes de dormir, já deitado e com as luzes apagadas, eu faço a limpeza noturna. É sempre nesse momento que brota alguma idéia na cabeça e lá vou escrever (como hoje, e já são 4 da manhã), mas antes disso eu sempre faço a bolinha, brinco um pouco e coloca atrás da cama. É sempre na cama, mas não só na cama, que eu as coloco. Todas as minhas camas têm a prova irrefutável que eu já passei por lá. Por todo lugar onde passo, se as pessoas virarem as cadeiras, encontrarão lembranças minhas. São as minhas obras primas.<br />
Eu sempre soube que isso poderia me causar problemas com as mulheres, se elas descobrissem, é lógico, só que elas sempre descobrem.<br />
Como da vez em que eu estava morando com uma mulher de quem eu realmente gostava. Ela já havia me visto cutucar lá dentro algumas vezes, mas depois da quarta ou quinta vez eu comecei a prestar atenção antes de enfiar o dedo. Ela nem fazia idéia de que eu continuava fazendo isso toda noite depois que ela dormia, mas por respeito eu sempre lavava a mão depois disso.<br />
Até o dia em que ela queria reorganizar o quarto e eu estava ajudando.<br />
- Tá, agora vamos mudar essa cama e colocá-la naquela parede.<br />
- Agora?<br />
- É. Agora.<br />
- Mas ela está bem aqui onde está.<br />
- Não, aí vai ficar o armário novo.<br />
Maldito armário novo.<br />
- Ok, então vai lá fora e pega uma pá e uma vassoura.<br />
- Pra quê?<br />
- Acredite em mim. Vai lá e pega, por favor.<br />
- Tá bom...<br />
Ela foi e voltou.<br />
- Agora espera lá fora.<br />
- O que você vai fazer?<br />
- Só faz o que eu tô te pedindo, vai ser melhor pra você.<br />
- Mas eu quero saber pra que isso.<br />
- Te conto quando acabar. Te juro.<br />
Virei a cama e lá estava. Anos e anos juntando caca e colocando atrás da cama todas as noites. Era realmente bonito. Cada marca representava um dia da minha vida desde que me mudara. Como os presos que fazem marcas na parede para contar os dias. Era um calendário feito pelos homens das cavernas feito por um dos seus remanescentes.<br />
Onde está a merda do celular quando se precisa dele?<br />
- Amor, pega meu celular em cima da tv. E sem perguntas. Daqui a pouco te explico.<br />
Tirei uma foto que realmente ficou boa e comecei a limpeza com peso no coração. Ou as melecas ou a mulher da minha vida, pensei. Não peraí, não tem nem o que pensar aqui.<br />
Raspei tudo com a pá, varri o chão e joguei tudo pela janela.<br />
Abri a porta.<br />
- Olha, porque eu realmente amo você, tem como pegar o veja e um pano?<br />
Limpei tudo com cuidado pra não deixar nenhuma sobra. Parecia novo depois disso, a não ser pelo fato de ficarem muitas manchas onde antes havia catotas.<br />
Coloquei a cama no lugar e abri a porta. Sabia que teria que contar a verdade.<br />
- Sabe, amor...<br />
(Pausa)<br />
Daí contei basicamente a mesma história que está aqui.<br />
Uma das coisas que eu realmente gosto nela é o fato de nunca saber como ela reagiria com as coisas que eu contava, era realmente imprevisível. Com coisas grandes ela olhava pra mim e dizia “ok, tudo bem”, como quando eu bati o carro ou perdi o emprego. Agora com coisas pequenas é “puta que pariu, Daniel! Você é foda!”. Como logo quando ela se mudou e viu o lixo do banheiro sem saco plástico e os papéis de merda jogados de qualquer jeito lá, muitos até olhando pra ela, foi o clássico “puta que pariu, Daniel! Você é foda!” Ou quando eu não arrumava a cama “puta que pariu...”, daí eu dizia:<br />
- Amor, se eu pensasse em arrumar as coisas, em primeiro lugar eu já não teria bagunçado, simplesmente não faria sentido, não é mesmo?<br />
Não colou.<br />
Ou quando eu não lavava a louça.<br />
- Amor, eu simplesmente fico aqui sentado esperando que esse tipo de coisa se resolva sozinho.<br />
- Você não está esperando que eu lave, né?<br />
Sim.<br />
- Não, claro que não.<br />
Mas ela sabia quem eu era desde a primeira vez que fui no apartamento dela anos atrás. Eu queria usar o banheiro e ela disse pra eu não entrar lá (eu imaginei que deveria ter uma pilha de roupas sujas, ou um casal de velhinhos esquartejados na banheira) que ela não queria que eu visse (mulheres também são meio porcas), daí eu saí do apartamento e bem ao lado da porta havia um vaso grande com uma planta, abaixei o zíper e mijei no chão, depois chacoalhei e voltei (é, mas acho que os homens são piores). Não me lembro de ter lavado as mãos.<br />
(Voltando)<br />
- Puta que pariu, Daniel! Você é foda!<br />
Eu já imaginava.<br />
Só que dessa vez a coisa foi realmente séria. Discutimos por um bom tempo até ela fechar a porta e eu ter que dormir no sofá.<br />
Como um amigo meu uma vez sabiamente disse: “O homem que tem que escolher o sofá de casa, porque invariavelmente é lá que ele vai passar algumas noites.”<br />
Se ela soubesse que a cama era só o depósito principal e que havia muitos outros espalhados pela casa, ela terminaria comigo. Decidi que na primeira oportunidade eu limparia tudo.<br />
Apaguei as luzes, me deitei e fiz a limpeza noturna, colocando tudo depois em baixo do sofá. Tudo o que eu pensava era “maldito armário”.<br />
Dormi.<br />
Acordei de madrugada assustado. Era ela me cutucando toda manhosa pedindo pra eu dormir na cama com ela. Eu fui.<br />
Não precisou de muito tempo pras coisas começarem a esquentar. E quando eu já estava de pau duro ela começou a chupar eu dedo. Eu sabia que seria dali pra baixo.<br />
- Que gosto estranho.<br />
- Putz, esqueci de lavar a mão.<br />
- Puta que pariu, Daniel! Você é realmente um filho da puta!<br />
Começou tudo de novo, só que dessa vez eu nem abri a boca, simplesmente não tinha argumentos. Ela colocou a roupa, pegou as chaves do carro e saiu. Voltando só alguns dias mais tarde pra pegar suas coisas.<br />
Acabei sem mulher e sem melecas e depois concluí que a foto das catotas era melhor do que todas as fotos que eu ainda tinha dela. Bem, seria um longo caminho, mas faria tudo de novo.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-68218857092551252742008-09-30T01:39:00.000-07:002008-11-03T04:45:38.041-08:00PEQUENA PENSÃO DOS HORRORESJá se haviam passado dois meses que eu estava em Buenos Aires nutrindo meu sonho de encontrar uma Argentina rica enquanto minhas dívidas no Brasil caducavam. As coisas estavam indo bem: arrumara um emprego, tinha um lugar descente pra dormir e tinha comida na mesa. Mas isso não iria durar muito.<br />Acontece que naquele mês de Julho os preços do lugar onde eu estava iriam subir por causa da temporada, mas voltariam ao normal no mês seguinte, daí eu pensei: “Bem, eu moro em qualquer outro lugar e no mês que vem eu volto pra cá”. Mas as coisas foram bem diferentes.<br />Minha chefe encontrara um lugar mais ou menos perto do trabalho e com um preço abaixo da média, e como a grana andava curta eu não pensei duas vezes em arrumar as minhas coisas e ir pra tal “pensão familiar”.<br />Cheguei ao lugar com meu amigo e pensei comigo mesmo quando vi a fachada “nada mal, nem precisava tanto”. Mal sabia eu que faltava e muito.<br />Apertei a campanhia e uma velha muito estranha atendeu. Não fui com a cara da dona logo de cara, nem ela com a minha.<br />- Você é brasileiro?<br />- Sou sim.<br />- Minha filha se casou com um e foi uma péssima experiência.<br />Se casar por si só é uma experiência ruim.<br />A pensão tinha 3 andares. No primeiro a velha morava com o marido e a filha, no segundo tinham quartos maiores e dois banheiros, no terceiro os quartos menores e só um banheiro, o lugar não tinha cozinha. Eu fiquei com um dos quartos realmente menores.<br />Quando entrei no meu quarto fiquei abismado. Que lugar de merda! Mas era isso ou dormir na rua. Eu realmente tive motivos pra pensar assim, e olha que eu não tenho nem um pouco de frescura, o quarto tinha 3x1,5m com as paredes de madeira compensada e o teto de isopor. Tudo o que cabia no quarto era eu, minhas coisas, uma cama menor do que eu, um armário cheio de venenos de baratas e uma cadeira que em eras passadas já fora vermelha.<br />Bem, era isso ou a rua. Pelo menos tinha uma janela pra rua, alguns dos outros quartos tinham janelas pros corredores.<br />Como o lugar não tinha cozinha o fogareiro de duas bocas ficava no corredor, tinha uma geladeira em cada andar, mas como eu não pensava em cozinhar não fazia diferença. O banheiro era nojento. A privada não tinha assento e a pia ficava sempre cheia de restos de comida, já que não tinha onde os caras lavarem a comida. Cozinha deve ser coisa de rico, só pode. Naquele banheiro peguei uma micose fodida logo nos primeiros dias que durou semanas. Pra piorar ainda teve alguém com senso de humor maior do que a maioria que começou a decorar as frestas do banheiro com pedaços de papel higiênico cheios de merda. Puta que pariu! Pelo menos tinha água quente.<br />Os primeiros dias foram os piores, mas como eu trabalhava passava a maior do tempo fora, só voltando pra tomar banho e dormir. Complicado mesmo eram os finais de semana, onde tudo o que eu fazia era ler e ler mais um pouco. Lia um a dois livros por final de semana, era tudo o que eu podia fazer, porque ficar de bobeira naquele frio não era uma idéia muito boa. E ainda tive a sorte de pegar um dos invernos mais rigorosos da história daquele lugar, tanto que até nevou depois de quase 80 anos. E posso dizer que as paredes de madeira e o teto de isopor não ajudaram muito. Fazia incursões diárias pra padaria comprar a minha única refeição do dia e à noite quando a fome apertava eu roubava algum leite da geladeira. Alguns chamariam isso de ato vergonhoso, eu de sobrevivência.<br />E as pessoas que moravam lá... Tinha um velho desdentado que todo dia quando me via falava sempre a mesma coisa:<br />- Que frio, não?<br />- É.<br />- Eu fiquei no seu quarto por 4 anos e quase morri de frio.<br />- É mesmo?<br />- Mudei de quarto por causa do frio, agora no que estou não tem janelas.<br />O quarto dele era o menor da pensão e o mais barato. Me senti com sorte. Poderia ser pior.<br />- Mas até o final do ano eu me mudo daqui. Vou pra um lugar melhor.<br />O céu?<br />- Claro.<br />E isso se seguiu por todos os dias nos dois meses em que fiquei lá. Ele não saia da pensão e vivia à base de bifes que me deixavam com mais fome. Igual o cara da pensão do Arturo Bandini, mas pelo menos ele nunca me pediu dinheiro emprestado.<br />O único amigo dele era o velho que morava no quarto na frente do meu. Esse não tinha nenhum dente e quando falava comigo eu só concordava porque nunca entendi uma só palavra do que ele dizia. Esse velho vivia de limpar vitrines nas lojas e o quarto dele tinha livros e garrafas de bebidas até o teto. Fiquei preocupado em acabar minha vida igual a ele.<br />Havia também um cara que todas as noites ouvia o Rei Roberto Carlos em espanhol, e no quarto ao lado do meu tinha a única mulher da pensão que só vi uma vez.<br />Mas o melhor de todos era o vizinho da direita. Mestre Davi. O cara mais feio que vi por aqueles lados. Num belo sábado estava eu deitado lendo quando alguém bate à minha porta.<br />- Oi, tudo bem?<br />- Oi.<br />Ele também não tinha vários dentes.<br />Percebi depois que as pessoas que moravam na parte de baixo pareciam muito mais saudáveis que as da parte de cima. As que moravam no meu andar precisavam de planos odontológicos urgente, e muitos de dentaduras.<br />- Eu estou indo ao mercado e queria saber se você não precisava de alguma coisa.<br />- Não. Eu estou bem, só um pouco gripado.<br />- Você é brasileiro?<br />- Sou sim.<br />Daí ele sorriu. Preferia que não tivesse. Aquela boca era monstruosa.<br />- Eu gosto de brasileiros. São todos “buena onda”.<br />- Bem, eu gosto de pensar que sou.<br />- Vou comprar um remédio pra você.<br />- Ok.<br />- Já volto.<br />Alguns minutos depois ele bate na porta de novo.<br />- Comprei essa garrafa de vinho pra você.<br />- Obrigado.<br />- Antes de dormir aqueça um pouco e beba. No dia seguinte você vai se sentir muito melhor porque o álcool mata os anti-corpos.<br />Eu nem me dei ao trabalho de explicar o que eram anti-corpos. Só agradeci.<br />- Pode deixar que eu tomo. A propósito, meu nome é Daniel.<br />- Prazer, eu sou Davi. Quer tomar uma cerveja?<br />- Claro.<br />Eu estava pensando em beber aquele final de semana mesmo. Minha chefe, com quem eu havia ficado por um tempo, havia me chutado naquela semana porque ao invés de procurar trabalho numa lanchonete como lavador de pratos eu fiquei na casa do meu amigo tomando cerveja, e assim eu não poderia dar um futuro pra ela. A mesma merda de sempre. Mas essa eu queria ver: "lavador de pratos brasileiro dá futuro pra garota rica argentina", só na cabeça dela.<br />Ficamos um tempo bebendo cerveja e conversando. O cara até que era gente fina. Ele tinha ex-mulher e filho e estava naquele lugar porque gastava todo o dinheiro dele com bebida. Não tem como não sentir compaixão por um cara desse. Pode ser o futuro de qualquer um de nós.<br />- Gasto todo meu dinheiro com bebida e putas.<br />- É o mal de todos nós.<br />- E tem que ser com puta mesmo. Porque mulher só quer saber de futuro.<br />Olha só! Até nossos problemas eram parecidos.<br />- Vem cá. Olha isso. – ele me convida.<br />E o cara me mostra o quarto. Nossos quartos eram do mesmo tamanho, mas de algum jeito sobre-humano o dele era bem mais bagunçado que o meu. E eu achava que isso era impossível.<br />- Olha isso. Olha onde eu moro. Vou dar futuro pra quem com isso? Não tenho futuro nem pra mim.<br />Ele era um cara que sabia das coisas.<br />Acabaram as cervejas e fomos pro bar. Depois pra outro e mais outro. Num deles saímos sem pagar a conta. Ele era definitivamente um dos meus. Só que ficava bêbado muito rápido. Tentamos jogar bilhar, mas fomos barrados porque o cara mal conseguia ficar em pé.<br />- Vamos pro puteiro então. Eu pago – ele disse.<br />Bem que eu queria, mas ele não conseguiria chegar lá. Decidi que era melhor levá-lo pra casa.<br />O caminho todo fui carregando ele no braço, e quando eu achava que não conseguiria mais, chegamos na pensão. Subimos as escadas, joguei ele na cama e fui escovar os dentes. Na volta dei uma olhada pra ver como ele estava. Ele estava caído no chão com a cara em cima de um copo cheio de cinzas de cigarro. Peguei o cara e o joguei em cima da cama de novo. Fui pro meu quarto e ouvi o baque dele caindo de novo no chão. Agora ele estava por conta própria.<br />Fiquei sem vê-lo por alguns dias, até o fatídico dia que ele me chamou pra beber de novo. Disse que não podia pois teria que trabalhar cedo no dia seguinte. Pra ele não fez diferença porque ele bebeu sozinho e ficou enchendo o meu saco a noite toda. Não só o meu como de todo mundo até às 3 da manhã. Ele gritava, cantava, batia na minha frágil parede pra eu beber com ele, mas quando ele tentou entrar na minha porta eu fiquei puto e pensei: ou eu bato nesse cara ou vou chamar alguém que tenha autoridade pra conter esse maldito. Chamei o dono da pensão, que falou um monte pra ele, desligou a luz e trancou a porta. Fazer o quê? O cara tava mais fodido que eu e me pagou algumas cervejas alguns dias antes.<br />No dia seguinte de manhã ele já estava acordado e pelo que parecia não se lembrava de nada. Me chamou até pra tomar café-da-manhã com ele, mas disse que estava atrasado. Desci pro andar de baixo eu fui dar uma cagada. Nisso o dono da pensão subiu , falou um monte pro pobre Davi e o expulsou da pensão. Ele ainda disse que se saísse de lá teria que dormir na rua, mas o velho não se comoveu. Nunca mais o vi.<br />Morei naquele lugar por dois meses, e a maioria do tempo eu passei lá lendo, bebendo e vomitando. E depois fiquei cansado de passar fome e frio e decidi que era hora de voltar e tentar alguma coisa por aqui de novo. Ganhei alguma experiência nisso tudo, algumas foram boas, mas a maioria não. Demorei mais de um mês pra me acostumar com minha cama de novo e percebi que fiz um desnível só de um lado porque a cama que eu dormia na pensão era menor do que eu e assim não dava pra me esticar direito<br />Ainda penso nas pessoas que estão por lá, lugar onde muitos moram há anos e será onde eles eventualmente irão morrer. Por sorte eu não.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-61143343604110310732008-09-30T00:24:00.001-07:002008-11-10T20:58:30.737-08:00MULHER É TUDO A MESMA COISAEra uma noite fria como todas as outras. Depois de passar a maior parte da noite na casa do meu amigo fumando maconha, decidimos que seria bom emendar para outro lugar. O bar mais próximo, no caso. Mas não era o tipo de bar que eu estava acostumado com mesas de bilhar, bebidas baratas e pessoas realmente bêbadas – esse lugar era pra pessoas civilizadas. Grande merda. Desde que eu não pagasse...<br />Então lá fomos nós – eu, uma amiga (que posteriormente se tornaria minha chefe num dos trabalhos mais idiotas da minha vida, e pelo que tudo indicava estava interessada em mim) e a amiga dela. Fomos a pé até o lugar. Nada de mais foi dito no caminho, até porque elas não sabiam falar a minha língua, e eu estava aprendendo a delas. Mas bêbados falam numa língua universal.<br />Chegamos. Que lugarzinho mais estranho. Definitivamente não é meu tipo de lugar.<br />- O que vocês vão beber?<br />- Cerveja pra mim. – eu digo.<br />- Pra mim também.<br />- Eu vou querer um suco.<br />- Suco? Mas quem caralhos toma suco num lugar desses às duas da manhã? – esse foi eu pensando.<br />- Estou de dieta.<br />Deveria mesmo. Vê se cria vergonha e perde uns quilos pra entrar no padrão boi de qualidade. Isso foi o que eu gostaria de ter dito. Ao invés disso eu disse:<br />- Pára de frescura e toma uma cerveja com a gente.<br />- Cerveja eu não tomo, mas tomo uma dose de tequila se vocês quiserem.<br />- É claro que eu quero!<br />Pedimos. O garçom trouxe e disse:<br />- Tem que pagar agora.<br />Faço uma mesura exagerada para pagar minha carteira.<br />- Pode deixar que a gente paga essa.<br />- É, quando você estiver trabalhando você compra alguma coisa pra gente.<br />- Claro. – Mal sabia ela...<br />Depois disso vieram mais tequila e mais cerveja e elas continuaram pagando, e eu bebendo. Comecei a ficar bêbado.<br />- Peraí que eu vou ao banheiro.<br />Essas coisas são programadas nos mais sutis dos detalhes por forças superiores, porque quando eu abri a porta do banheiro o vômito subiu e tudo foi despejado no seu devido lugar: um pouco na privada, um pouco no chão e mais um pouco no meu tênis. Por sorte nada na minha calça. Respiro fundo, saio e me olho no espelho. Que bom, não pareço tão bêbado como realmente estou. Assim é melhor porque acaba vindo mais cerveja. Bebo doses cavalares de água pra tirar o gosto de esgoto da boca e volto pra mesa. Mais cerveja.<br />Quando a coisa estava ficando boa alguém anuncia:<br />- O bar já está fechando.<br />- Pra onde vamos agora?<br />- Eu não quero voltar pra casa.<br />- Agora que está ficando bom.<br />- Vamos pra outro bar então.<br />Eba!<br />Foi só atravessar a rua.<br />Droga, acabaram meus cigarros!, penso comigo mesmo.<br />- Droga, acabaram meus cigarros!<br />- Eu compro pra você.<br />Assim é fácil demais.<br />O bar que entramos era ainda pior. Tinha uma pista de dança. Homens machões não dançam. Por sorte pegamos uma mesa mais afastada.<br />Chegou mais cerveja. A essa hora eu nem fazia mais questão de fingir pegar minha carteira.<br />- Vamos dançar?- minha futura chefe me pergunta.<br />Você só pode estar zuando com a minha cara.<br />- Eu não danço.<br />- Por favor.<br />- Ok.<br />Eu realmente me esforcei pra dançar direito. Tentei me lembrar do Sidney Magal dançando num programa qualquer de Domingo, mas falhei miseravelmente.<br />- Meu deus! Você não sabe dançar?<br />- Deu pra perceber?<br />- Mas você é brasileiro.<br />- Eu também não sei jogar futebol.<br />Desisti. É melhor eu me concentrar na cerveja.<br />A outra me diz:<br />- Agora você vai dançar comigo.<br />Bem, um pouco mais de humilhação pública nunca fez mal a ninguém bêbado.<br />Elas riram de novo.<br />Já era de manhã quando o lugar fechou.<br />- Você tem dinheiro pra condução?<br />Agora eu estava a disposto a realmente não gastar nada.<br />- Hum... Bem...<br />- Toma. Pra você pegar o ônibus.<br />E assim elas se despediram de mim.<br />Aconteceu que naquela noite eu bebi demais (o que não é nenhuma novidade), mas elas realmente estavam esperando alguma coisa de mim. Eu só pude dar o meu tempo pra elas. Alguns dias depois eu acabei dando bem mais do que isso. Mas foi uma boa noite, pra mim.<br />Peguei o ônibus, dormi, acordei, desci, dei uma mijada na rua, toquei algumas companhias a esmo e fui comprar um alfajor, que naquela cidade era uma das poucas coisas boas que ela tinha pra oferecer.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-14676773901402360392008-09-29T23:43:00.000-07:002008-11-20T09:13:02.296-08:00IGREJA SERVE PRA ALGUMA COISAMeus dias de sorte já há muito tempo se acabaram. Já fazia um tempo toda a alegria que eu tinha me era proporcionado pelos meus amigos, e isso já estava me irritando, e imagino que a eles também. E quando eles disserem “chega” aí sim eu estarei fodido.<br />Mas a vida não é só lamentos. Porém, justo quando eu estava realmente disposto a conseguir um emprego eu acabei quebrando meu dedo numa queda vertiginosa a 100 Km/h na frente do pior bilhar da região. Se eu estava bêbado? Que pergunta mais retórica. Levei 3 pontos na mão depois de tomar um porre homérico numa festa à fantasia; as chagas de Cristo apareceram nos meus dois joelhos voltando pra casa com meus amigos (só me lembro de quando chegar em casa ter olhado pros meus joelhos e me perguntado “como diabos isso foi parar aí?”); num natal tentei atropelar um carro, e não precisa ser gênio pra saber quem levou a pior; e por aí vai...<br />Então mais uma vez machucado minhas chances de conseguir um emprego estavam indo latrina abaixo. Até parecia que deus não queria que eu trabalhasse. Será? De qualquer jeito eu iria utilizar meu salário pra gastar em cerveja e em motel com uma mina que apareceu na minha vida, mas de qualquer forma ela, como todas as outras, acabou me chutando pelo mesmo motivo. Ah, que se foda essas vacas! Eu iria gastar tudo em cerveja e puteiros.<br />E lá estava eu e meu amigo no centro num dia de semana vadiando, e quando sobrava uns trocados íamos no fliperama. Eu sei, eu sei... Nada muito digno, mas quem pensa em dignidade quando está desempregado?<br />Estávamos passando na praça das flores, é ali na João Mendes, atrás da catedral da Sé, bem no meio da cidade, você sabe muito bem onde fica. Foi lá que eu a vi. A mesma mulher que eu havia visto quando eu tinha 15 anos e ainda povoa meus sonhos masturbatórios. Claro que se você sabe onde isso fica nem preciso dizer que era uma puta. Sempre fui afim daquela puta desde a primeira vez que a vi. Passados quase uma década estava na hora de realizar meus sonhos.<br />- Cara, vou comer aquela puta hoje – disse.<br />- Ela é muito gostosa.<br />- É sim. Vai ser hoje.<br />- Quanto será o esquema?<br />- R$ 40,00. Já perguntei uma vez.<br />- E onde que é?<br />- Tem um motel ali do lado que elas vão, mas é foda, sempre vi gente entrando, mas nunca vi ninguém saindo de lá.<br />- Aqui no centro é foda. Nunca se sabe.<br />- Eu é que não quero saber.<br />- E como você vai fazer?<br />- Não sei, você fica me esperando, sei lá.<br />- Mesmo assim é foda.<br />- É, eu sei. Vamos beber mais um pouco pra eu criar coragem. Beber deixa qualquer um corajoso.<br />Paramos num bar e começamos a beber. Hoje não teria fliperama.<br />Eu tinha exatamente R$ 50,00 que havia juntado sendo o pagador oficial de contas em casa e sempre sobrava alguma coisa (igual quando se tem 9 anos e sua mãe te manda comprar o pão e diz pra você ficar com o troco. É, eu sei, é vergonhoso, mas quando se está sem sorte e debilitado não há muito que se fazer) e como a fila de deficientes era menor, eu levava alguma vantagem. Sempre achei que aquela era a minha fila de qualquer jeito.<br />Quando os dez reais pras bebidas (cerveja e 51) haviam acabado eu já estava pronto pra atacar. Falei pro meu amigo me esperar e lá fui eu.<br />- Olá, moça.<br />- Oi, gatinho. Afim de fazer um programa gostoso hoje?<br />- Claro que estou. Eu passo aqui desde meus 15 anos e você sempre pisca pra mim.<br />- Eu pisco pra todo mundo.<br />- Mas eu prefiro pensar que você só pisca pra mim. A primeira vez eu não sabia o que você era, mas depois que eu descobri não fez a menor diferença. Você continua loira, bonita e gostosa.<br />- Que bom pra mim, não?<br />- Bom pra metade dos freqüentadores do centro também.<br />- Então, gatinho, o programa custa R$ 50,00.<br />- Como assim? Não era 40?<br />- Quando foi a última vez que você perguntou?<br />- Há nove anos atrás.<br />- Bem, isso explica muita coisa.<br />- Droga! Eu gastei 10 com bebidas.<br />- Então arranja mais dez e vamos pro motel.<br />- De qualquer jeito não gosto da idéia de ir nesse motel. Coisa minha.<br />- Então não tem jeito.<br />- Não, espera aí. Eu sonho com você já faz muito tempo. Faz essa pra mim.<br />- Não dá. O motel fica com a parte dele.<br />Pensando... Nossa que grande idéia! Bêbado sempre se pensa melhor.<br />- Você é religiosa? – pergunto.<br />- Não. – fazendo uma cara estranha.<br />- Acredita em deus?<br />- Não com essa vida. – com toda razão.<br />- A gente poderia ir ali na igreja...<br />- Tá maluco? Na catedral?<br />- Claro que não. Tem aquela igrejinha ali do lado (e tem mesmo). Lá é sempre vazio. Ainda mais essa hora.<br />Se ela aceitasse deus existe e confirma minha teoria que ele tem um senso de humor bizarro.<br />- Tá bom. Mas é só pra você. Assim eu ainda pego a grana toda pra mim. Mas e se pegarem a gente?<br />- Ninguém vai pegar a gente. Confie em mim (muitos já fizeram isso com conseqüências desastrosas).<br />Que bom que ela não estava se vestindo como uma puta, apenas como uma mulher, no máximo, extravagante. Só para que os homens torcessem os pescoço pra ver a parte traseira. Que era generosa.<br />Ela foi na frente e eu fui atrás sem perdê-la de vista. Como previsto a igreja estava às moscas. Ela foi pro banheiro feminino e eu esperei do lado de fora. Esperei um pouco e ela abriu a porta e entrei.<br />- Olha, só não vai dar pra demorar muito por motivos óbvios. Se nos pegarem a gente se ferra bonito.<br />- Sem problemas.<br />O que é um céu sem um pouco de inferno, pensei.<br />Entramos no reservado que estava mais afastado e que estava divinamente limpo. Esse pessoal faz um bom trabalho.<br />- Me paga agora.<br />- Com todo prazer.<br />Daí então começou. Ela abaixou minhas calças e começou a trabalhar.<br />- Puta merda! É isso aí.<br />Puxei um peito dela pra fora.<br />Ela me olhando lá debaixo com aquela carinha de safada. Eu pegando naquele peitão dentro de uma igreja. Jesus! Me esforcei pra não gozar.<br />Ela abaixou a calcinha, virou de costas, arrebitou aquele traseiro imenso, colocou a mão na parede e disse as tão sonhadas palavras:<br />- Mete gostoso.<br />E eu meti. Por deus, eu estava no paraíso. Colocando e tirando, colocando e tirando. Isso é bom demais. Quando estava pra gozar alguém entrou no banheiro. Tapei a boca dela e fiquei parado. A vagabunda continuava a se mexer, mas bem devagar agora.<br />A mulher entrou no reservado e eu pensei “por favor, deus, que ela não vá cagar”. A puta parecia estar gostando da coisa toda.<br />Menos de dois minutos depois estávamos sozinhos de novo. Minhas preces foram atendidas. Obrigado deus!<br />- Isso tá me dando um puta dum tesão, sabia?<br />- Sabia sim.<br />Daí comecei a meter com força de novo naquele buraco quente e molhado. Demorei um pouco e gozei. A melhor gozada da minha vida.<br />- Meu deus! Isso foi muito bom.<br />- Eu nem consigo me mexer.<br />- Gostei de você. Na próxima vez a gente repete isso.<br />- Na próxima vez a gente acha outra igreja, ou sinagoga, ou qualquer outra coisa.<br />Ela me deu um beijo e saiu.<br />Eu estava em êxtase e pensei em desrespeitar a casa do senhor mais um pouco. Pensei em acender um cigarro, mas sei que não é bom abusar da paciência do divino. Hoje ele já tinha dado a minha cota. Quando estava procurando meus cigarros achei uma moeda de um real. Saí de lá e depositei na caixinha de doações. Aquilo era tudo o que eu podia fazer pela igreja e aquilo foi tudo o que ela pôde fazer por mim. Nada mal. Dei uma piscadinha pra Jesus lá morto na cruz e tenho certeza que ele piscou de volta.<br />Ao sair da igreja meu amigo estava me esperando no bar.<br />- Caralho, cara, onde você estava?<br />- Comi a puta dentro da igreja.<br />- Você tem merda na cabeça.<br />- E quem não tem?Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-65264005005608709222008-09-29T22:28:00.001-07:002008-10-01T00:39:43.396-07:00EU TAMBÉM... NÃOSempre achei estranho o fato de meus amigos só me contarem o que fizeram depois que eu contar que fiz primeiro. Por exemplo: quando eu contei que fizeram fio terra em mim, um monte de gente levantou a mão e disse “eu também!”. Quando disse que eu havia cagado nas calças, um monte de gente disse “eu também!”. Quando disse que havia bezuntado minhas bolas com leite condensado e que minha cachorra lambeu, foi a mesma coisa: “eu também!”. Daí eu pensei: O que esses caras já fizeram e não me contaram ainda?<br />Num dia desses em casa, comprei algumas cervejas e chamei um amigo que eu suspeitava já ter feito algumas coisas suspeitas e nunca contou pra ninguém. Bem, eu queria ser o primeiro.<br />Depois de algumas cervejas...<br />- Pô, cara, se lembra daquela vez que bebemos todas e fomos no centro?<br />- Claro! Fizemos um monte de merdas! E esse dia nem foi o pior.<br />- É verdade. Teve aquele caso com as cachorras...<br />- Poxa, que saudade da Charlote...<br />- A que fugiu por maus tratos?<br />Depois de varias cervejas.<br />- Cara, eu já chupei uma pica.<br />Mentira, mas esperei a reação.<br />- É, cara, eu também. Faz algumas semanas.<br />- Puta merda! Eu sabia! Viadinho de merda!<br />- Como assim? Você não fez a mesma coisa?<br />- Nem. Eu só suspeitava que tinha gente que fez mais coisas e que nunca contaram. E que como sempre sou eu que falo primeiro e depois todo mundo fala “eu também!” eu sabia que tinha que arriscar com você.<br />- Quer dizer que você nunca chupou pica?<br />- Claro que não! Tá maluco?!<br />- Merda!<br />Então ele tira uma .38 da cintura, pede desculpa, e atira bem na minha cabeça. Que viado filho da puta. Ele já estava preparado pra isso. Não vi mais nada...<br /><br />No dia seguinte.<br />- Caralho, cara! O que aconteceu com ele? (chorando)<br />- Então, velho. Ele disse pra mim que tinha chupado uma pica algumas semanas atrás e se matou na minha frente. (triste pra porra)<br />- Sério? (confuso)<br />- Sério. (sério)<br />- Que bichona esse cara! (sorrindo)<br />- Foda-se esse cara e vamos tomar umas cervejas! (aliviado)Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-62369813470783114872008-06-17T11:26:00.000-07:002008-10-01T00:31:46.164-07:00SOBRE MULHERES E TRABALHOA vida continuava a mesma, ou seja, sendo vivida. Fazia tempo que ela estava sendo um tanto quanto monótona, mas ficava freqüentemente bêbado, isso quando meus amigos estavam dispostos a pagar a minha parte. Eu tinha amigos generosos e de verdade, o que era ótimo.<br />Tinha desistido momentaneamente das mulheres - não, eu não sou viado -, é que como todas as últimas mulheres me chutaram pelo mesmo motivo (falta de futuro aparente), eu pensei que tinha que arrumar primeiro um emprego para não ter que ouvir a história mais uma vez. De qualquer maneira eu estava sem os dois,o que não era nenhuma novidade.<br />Percebi que estando desempregado as coisas da vida são mais simples, porque você tem menos opções. Por exemplo: Se você está com fome e vê aquela coxinha e aquele risole quente reluzindo num bar, você simplesmente continua andando porque não pode ter nenhum dos dois. Tudo fica mais simples quando se tem tão poucas opções. E isso vale pra mais um monte de coisas. O importante é ter comida no prato e um teto sobre a cabeça, o resto é luxo. E as mulheres? Bem, não há nada que R$ 20,00 não resolva. E com mais esse problema resolvido as coisas se tornam mais claras, assim você pode concentrar seus esforços em outras coisas. Como ler, ver bons filmes, masturbação desenfreada, ficar olhando pro teto o tempo que quiser, passear com o cachorro... essas coisas.<br />Já fazia quase dois anos que abandonei meu emprego “pra vida toda” para me dedicar mais a escrever, mas por algum desígnio divino isso não deu muito certo. De qualquer modo ficar em casa fazendo o que quiser é melhor do que fazer as coisas que os outros mandam você fazer. Isso tudo porque cheguei à brilhante conclusão de que se o dia tem 24 hs e você trabalha 8hs, você gasta 1/3 do seu dia trabalhando, mais 8hs que você em média dorme já são 2/3. Daí sobra apenas 1/3 do seu dia pra você comer, escovar os dentes, ir ao banheiro (coisas que eu só fazia no trabalho, porque em casa eu fazia isso de graça, mas no trabalho eles me pagavam pra cagar) e fora ter que ir e voltar do trabalho que leva um tempo precioso que você já não tem. As pessoas ainda têm o péssimo hábito de falar sobre trabalho mesmo quando não estão trabalhando. No final das contas você perde dias, semanas, meses e anos sem fazer nada do que realmente queria. Isso vale a pena? E pior ainda! Injúria das injúrias! A maior maldição de todas é quando chega a noite - numa das poucas horas que você tem pra você mesmo - e na hora de dormir o que acontece? Você sonha com a merda do trabalho! Eles ainda conseguem tirar as suas horas de sono. Eu juro que quando isso acontecia eu marcava hora extra. E ainda tem gente que estuda pra no final das contas conseguir um trabalho melhor. E tudo isso pra quê? Pro espertão chegar do seu lado e dizer “faço isso pra um dia me aposentar”. Claro que isso tudo faz muito sentido. E ainda tem os viciados em trabalho que mesmo depois de aposentados continuam trabalhando, porque “se eu parar de trabalhar, eu morro”. Já morreu faz tempo.<br />Mas não importa, eu tenho que trabalhar, afinal eu não nasci rico. Por isso acabava indo me humilhar por um emprego sempre que a sorte ou o azar permitiam.<br />Como num belo dia. Fui me encontrar com um amigo que fazia tempo eu não via. Quando ele me viu, exclamou: “Caralho, cara! Você tá parecendo um mendigo!” E não era pra menos. Minha roupa estava velha e com buracos, minha barba fazia tempo que estava correndo do barbeador, meus poucos cabelos estavam desgrenhados e o olhar meio longe de quem já havia bebido umas. Para melhorar minha situação eu precisava de um incentivo extra.<br />E aconteceu que ao invés de conseguir um emprego para depois conseguir uma mulher, uma mulher me encontrou antes. Simpatizei com ela logo de cara e um pouco mais tarde naquela mesma noite descobri que ela bebia pra caralho, cuspia no chão, falava “eu vou dar uma mijada” e era uma exímia dançarina de funk. Achei tudo isso simplesmente do caralho. Taí um ótimo motivo pra se conseguir um emprego, afinal de contas, bebida e motel não se consegue de graça.<br />Acontece que nos meses que se seguiram eu perdi a mulher e ainda estou desempregado. No final das contas nada disso vale a pena. Nem mulheres e nem trabalho.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-63394858447822570942007-05-26T13:30:00.001-07:002008-10-11T16:58:19.281-07:00A ARTE DE FAZER ENTREVISTASEsse lance de procurar emprego nunca me agradou, na verdade, nem o lance de trabalhar, e descobri recentemente que eu levo jeito é pra vagabundo mesmo.<br />Mas como dinheiro não dá em árvore e seguro desemprego são só cinco parcelas, lá vou eu atrás de mais um emprego idiota. E digo “idiota” porque quando você não faz o que quer, você só pode ser um cara imbecil, e acreditem, eu sou um.<br />Depois de três meses em casa vagabundando (e a grana acabando) achei necessário a minha volta ao mercado de trabalho, mas nada que desse muito trabalho.<br />“Sete dias gratuitos.” Quem nunca viu isso? Eu vi e entrei.<br />Nada mal, algumas entrevistas em apenas uma semana, minha área não está tão ruim assim, esse site não é de todo mal.<br />Engano meu, depois de sete dias lá está o débito na minha conta. Tudo bem que o erro foi meu por não ler o e-mail que eles mandaram...<br />Que seja! Entrevista marcada pra sexta-feira e lá vou eu.<br />Acordo cedo (coisa que eu me desacostumei), aparei a barba (cortar tudo jamais!), me vesti de palhaço (calça social e camisa por fora da calça, claro) e lá fui eu com um currículo embaixo do braço pra droga do lugar.<br />Lugarzinho bacana, bem localizado e sem a cara de escritório, é o típico lugar que quando você passa na frente não sabe bem o que é na verdade.<br />Cheguei ao lugar às dez da manhã. Primeira uma entrevista com uma psicóloga (?) que depois me mandou fazer uma porrada de testes idiotas, coisas com riscos e figuras, e fora um questionário sobre perguntas pertinentes a minha “profissão” que eu realmente não soube responder, sou um péssimo funcionário. Já estava ficando realmente chateado com aquilo tudo, e pensava o que aconteceria se eu simplesmente levantasse e fosse embora. Acho que as coisas poderiam ser bem melhores se eu tivesse feito isso, mas o que eu tinha a perder? E eu não estaria aqui escrevendo isso. Então fiquem agradecidos por eu ter ficado lá.<br />Depois de entregar um texto sobre a “arte de ficar em casa” chegara a hora do almoço.<br />- Por favor, volte daqui a uma hora para fazer a entrevista com o chefe.<br />Almocei e depois de uma hora voltei.<br />Filho da puta. Me deixou esperando por mais de uma hora. Será que isso fazia parte do teste? Acho que não.<br />Me chamaram e lá fui eu na sala do cara.<br />Ele se parecia com qualquer outro chefe metido a besta de filmes hollywoodianos, e eu não fiquei nada surpreso com isso.<br />Apresentamos-nos.<br />- Nós somos uma empresa – começou ele – que tem mais de mil e quinhentos funcionários, somos a maior do nosso ramo, com filiais por toda São Paulo, Rio e Paraná.<br />Grande coisa. Odeio quem se gaba pelo emprego que tem, se ele ainda fosse dono daquela merda toda, mas nem isso ele era.<br />- Quando você terminou o segundo grau? – perguntou ele.<br />- Em 2001.<br />- E não pensa em fazer nenhuma faculdade?<br />- Eu sempre achei que uma pessoa não precisa de uma faculdade pra ser alguém na vida – respondi. Na hora eu pensei no Bukowski, mas ele não é um bom exemplo. Depois pensei no meu pai, era um exemplo pior ainda.<br />- Olha filho...<br />Ele era meu pai e eu não sabia?<br />- Eu também tinha duvidas sobre o que fazer quando tinha a sua idade, mas depois eu decidi por Administração de Empresas com Ênfase em DEPARTAMENTO PESSOAL. Estou nessa área há DEZOITO ANOS. Conheço TUDO sobre departamento pessoal.<br />Como todo mundo que não sabe o que fazer ele também fez administração atrás de dinheiro. Eu juro que ele salientou todas essas palavras como se fosse alguma coisa importante, pra mim não era. O cara realmente se achava grande coisa.<br />Depois de mais perguntas, e ele ainda ressaltou que eu não fui muito bem nas questão sobre a minha “função”, ele disse:<br />- Bem, vejo pelo seu currículo que você está desempregado há uns três meses?<br />- Certo.<br />- E que está querendo voltar ao mercado de trabalho.<br />Silêncio.<br />- Você não está querendo voltar ao mercado de trabalho? – Insistiu ele.<br />Mais silêncio.<br />- Então...?<br />- Bem, querer trabalhar eu não quero... – comecei.<br />- Você não quer trabalhar? – perguntou ele confuso.<br />- Exatamente. Eu não quero trabalhar, mas eu preciso trabalhar. Infelizmente não nasci rico, entende?<br />Silêncio de novo. Agora por parte dele.<br />- Sei... – respondeu ele com cara de bobo. E ele nem precisava se esforçar muito.<br />Sinceridade acima de tudo, eu sempre pensei assim. Ninguém mandou ele fazer a pergunta errada. A culpa, se é que ela existe, era dele, e não minha.<br />- Entendo, entendo. Então, eu tenho mais uns três candidatos a entrevistar...<br />Foi aí que eu saquei que ele estava mentindo, safado. Nem pra dizer a verdade e falar que não tinha gostado de mim, e nem das minhas respostas.<br />- E na semana que vem – ele continuou – eu ligo pra você. Boa tarde.<br />Me levantei e nem me dei ao trabalho de apertar a mão dele.<br />Abri a camisa, arregacei as mangas, coloquei meus óculos escuros e fui pra casa feliz e contente, com a sensação de que fora um trabalho bem feito.<br />Adivinha se eu consegui o emprego?Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-52741701205713019042007-05-26T13:29:00.002-07:002008-10-11T16:57:18.609-07:00CICATRIZEu estava lendo Bukowski sentado na privada quando li que ele mesmo achava que tinha mãos bonitas, então olhei para as minhas. Elas são legais, grandes e um pouco peludas, e fora a cicatriz que eu tenho próxima ao dedo mindinho na mão direita tudo estaria perfeito. A cicatriz se encontra no exato lugar onde a mão fechada em forma de soco atinge alguém, ou alguma coisa e, no meu caso, foi a segunda opção.<br />Foi numa festa à fantasia onde se encontravam algumas milhares de pessoas, todas muito bêbadas. Não que festas à fantasia me interessem, mas o fato de ser open bar sempre me interessa, e se você for macho o suficiente, não importa o quanto você pague, você sempre dará prejuízo. Não que a gente tenha pagado alguma coisa (a namorada de um amigo meu arranjou algumas entradas grátis), que seja, o importante é que só tínhamos que nos preocupar com as fantasias. Fomos à uma loja de fantasias na Vergueiro que se mostrou um dos lugares mais interessante da minha vida (cada roupa que colocávamos era mágico, nos transformávamos em outras pessoas, sei que isso parece gay, mas é verdade) e depois de muitas horas saímos de lá com duas fantasias de Jedi (uma minha), e uma de conde drácula (a namorada desse mesmo amigo já tinha descolado a fantasia dela de princesa).<br />Antes de irmos paramos numa lanchonete chique para comermos (também de grátis). Foi interessante a gente andando no meio do lugar todos fantasiados e as pessoas olhavam com um ar de “o que esses caras tão fazendo aqui com essas roupas?”, eu estava achando tudo o máximo.<br />(Agora chegamos na parte interessante.)<br />Chegamos ao lugar embaixo de uma puta chuva, isso depois de ficarmos perdidos no centro, mas chegamos. Primeira coisa a se fazer quando você se encontra num lugar que você acha uma merda é encher a cara, e como era open bar, bem, vocês já devem imaginar o estrago. Fui direto pro rum, bebida de piratas, e bebi vários copos, acho que aquele foi o primeiro dia que eu tomei rum.<br />No começo eu estava achando tudo aquilo uma merda, caras mais musculosos que eu e com cara de boyzinhos; minas com cara de vagabundas que só ficariam comigo bêbadas, mas nunca sãs; som horrível tipo eletrônico; mas sabia que tudo isso passaria depois que o rum fizesse efeito, então bebi mais. E meus amigos também,<br />(Agora chegamos na parte em que o título faz algum sentido.)<br />Como aquilo tudo estava demorando demais pra fazer efeito, eu pedi uma dose de copo cheio (e era um Sr. copo) e decidi virar tudo de uma vez. Segurei no braço do meu amigo pra não vomitar e lá fui eu virar todo o líquido dourado pra dentro da goela. O baque que a bebida fez ao bater no fundo do meu estômago foi quase sonoro, e me segurei muito pra não vomitar. Depois de alguns segundos não deu outra, tinha que dar porrada em alguém pra aliviar a dor (não é bem uma dor, se você bebe você sabe bem do que eu tô falando) e como eu não tava nem um pouco afim de arranjar briga com os caras de lá e eu não queria bater no meu amigo (que provavelmente revidaria) eu dei uma porrada na primeira coisa que eu vi na minha frente, no caso um extintor de incêndio. Não precisa ser muito esperto pra saber quem se deu mal nessa, mas o mais importante é que eu não senti nada e fiquei lá curtindo o efeito do álcool pré ingerido quando meu amigo disse “Cacete Boi, olha a sua mão!”, e não é que ela estava cheia de sangue!<br />Fui correndo ao banheiro e não deixei meu amigo ir junto comigo, pois ele tinha que vigiar a namorada dele e nosso outro amigo que era magrinho e estourado.<br />Chegando ao banheiro me deparo com uma puta fila, que merda! Eu não tava afim de ficar plantado numa fila de banheiro, eu nem sequer queria mijar. Um segurança viu minha mão e me chamou pra um canto. Eu disse que estava tudo bem, mas o cara insistiu em me levar pra fora pra lavar a mão. Eu já estava pensando que das duas uma: ou eles iam me jogar pra fora por eu ter brigado (eu ainda expliquei pra eles que eu havia batido num extintor de incêndio...), ou eles iam me encher de porrada. Nenhuma das duas, o cara foi gente fina pra caramba, lavou meu machucado e me encaminhou pra enfermaria.<br />Chegando lá tinha um monte de gente bêbada vomitando em tudo quanto era lugar e me pediram para me sentar em cima da maca para ser atendido. Sentei e a droga da maca desmontou, e lá fui eu pro chão do lugar. O lance que eu achei tudo aquilo muito engraçado e fiquei lá dando risada da minha cara e nem me dei ao trabalho de me levantar, mas a enfermeira sim; ela me ajudou a levantar e arrumou a maca de novo pra que eu pudesse sentar. Ela também achou engraçado, na verdade todo mundo que não estava desmaiado achou engraçado. Ela limpou meu machucado e quando ela me perguntou onde eu havia conseguido eu disse que tinha arrebentado a cara de um safado qualquer, pelo menos ela acreditou, se eu tivesse falado do extintor de incêndio ela não ia acreditar mesmo.<br />Certas palavras me dão arrepios, barata é uma delas, agulha é outra.<br />- A gente vai ter que dar uns pontos nesse machucado.<br />- Pontos? Meu Deus! Com agulhas?<br />- Com o que mais eu poderia dar?<br />- Cacete!<br />Como a bebida já estava fazendo efeito preferi não discutir. Eu abaixei a cabeça depois que vi a agulha da anestesia e quando ela aplicou tudo o que eu fiz foi gritar “Ai!”.<br />- Nossa! Um homem desse tamanho gritando por causa duma agulha dessas!<br />Depois disso eu não senti mais a minha mão. Era engraçado, ela fazendo os pontos (levei três), eu sentido a agulha entrando na pele e mesmo assim não sentindo dor alguma.<br />Agradeci a ela e sai da enfermaria com o nível de álcool altíssimo no sangue. Agora a bebida tinha feito efeito.<br />Andei alguns metros e vi meus amigo ali por perto, e antes de chegar até eles agarrei a primeira mulher que passou na minha frente, era bonita. Ficamos.<br />Depois dela apareceu mais uma, não que ela fosse bonita, mas pelo menos era mulher.<br />Depois disso eu não lembro de mais nada...<br />(Agora vem a parte engraçada.)<br />Acordei com o meu amigo me chamando.<br />- Boi!<br />- Que é Beavis? Me deixa dormir caralho.<br />- A gente tá na frente da sua casa.<br />Abri os olhos. Não é que estávamos mesmo!<br />- Cadê a Amanda?<br />- Deixei ela em casa.<br />- Cadê o Gustavo?<br />- Tá babando aí do seu lado.<br />E não é que estava mesmo!<br />Saí do carro. Meu amigo também, o outro continuou dormindo.<br />Quando cheguei no portão e coloquei a mão no bolso descobri que a chave não estava onde deveria estar.<br />- Peraí que eu pego pra você – disse meu amigo. Um grande cavalheiro se me perguntarem.<br />O safado entrou no carro e dormiu.<br />O outro que estava dormindo no banco de trás acordou. Saiu do carro e veio me perguntar o que estávamos fazendo lá parados, eu expliquei a situação.<br />Então tive a grande idéia de querer pular o muro, pedi pro meu amigo ajudar.<br />Ele fez o famoso “pézinho” e lá fui eu dar uma de homem-macaco. A equação que se seguiu é bem fácil: pouca habilidade + grande maça corporal = chão na certa; e lá fui eu dar de cara com a calçada, e com isso eu abri um rasgo na sobrancelha.<br />Meu amigo se limitou a dar risada da minha situação, um outro grande cavalheiro se me perguntarem.<br />Como estava me sentindo ridiculamente patético e terrivelmente bêbado preferi, como já fizera na enfermaria, ficar pelo chão mesmo e dar risadas.<br />Depois de um tempo, do nada, um gatinho branco apareceu e começou a se enroscar na minha perna, fiquei um tempão brincando com ele na calçada, e meu amigo também.<br />Foi mais ou menos nessa hora que o cara que estava dormindo bêbado dentro do carro despertou, e por pura mágica, achou minha chave.<br />Nos despedimos e fui pra cama dormir um pouco.<br />(Depois de muitas horas.)<br />Acordei só de cueca na cama e com as minhas roupas todas jogadas pelo quarto, na verdade acordei porque estava com uma puta dor na mão, e quando abri os olhos me lembrei do que havia acontecido, bem, na verdade havia uma grande lacuna na noite, por isso liguei pra um dos caras.<br />- E aê cara, tá vivo?<br />- Acho que sim, apesar de estar tudo doendo. O que aconteceu depois que eu saí da enfermaria?<br />- Pô cara, a Amanda disse que viu você com várias minas depois disso, bebeu mais um pouco e ficava mijando em todas as colunas do lugar, mijou até no carro que estava do lado do meu lá no estacionamento. Depois entrou no carro e apagou.<br />Mesmo bêbado eu não perco a postura, continuo um cavalheiro. As pessoas que me viram mijando devem ter achado a mesma coisa.<br />- E as minas eram bonitas pelo menos?<br />- Não cara, a maioria não era.<br />- Valeu cara, te ligo mais tarde.<br />Depois de um banho fui me juntar ao meu pai na cozinha, ele nunca viu os pontos, nem percebeu o rasgo na minha testa.<br />- A nossa cachorra matou um gato hoje de manhã.<br />- Sério? – fiquei chocado. – E como que ele era?<br />- Branco. Parecia um filhote.<br />Merda! Por culpa minha. Ou o gatinho gostou muito de mim e quis pular na minha casa pra brincar depois e acabou encontrando a morte na boca da minha cachorra, ou eu bêbado coloquei ele no bolso da calça pra brincar depois e minha cachorra puxou o bichano e eu nem vi. Preferi não pensar muito no assunto, fiquei mais mal por causa do gatinho do que pela ressaca. Sonho com o gatinho branco até hoje.<br />Bem, fora essa cicatriz que eu ganhei nesse dia e o corte no dedão embaixo da unha da mão esquerda, tudo estaria perfeito. O corte eu ganhei depois de enfiar a mão na boca de um amigo semi-bêbado atrás de um pedaço de pizza que por direito era meu, mas isso é outra história.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-22636508966495495612007-05-26T13:29:00.001-07:002008-10-11T17:43:07.331-07:00DA SÉRIE UMA NOITE NUM PUTEIRO DE VINTE REAISMais uma noite perdida para a bebida, não que isso seja ruim de qualquer jeito.<br />Voltamos pra casa a pé seguindo a linha do metrô como sempre fazíamos, até chegar em casa são umas seis estação e sendo umas onze horas, ainda se viam alguns bares abertos. Decidimos pagar pedágio em cada um deles, com pinga.<br />Lá pela quarta estação já estamos felizes e sorridentes.<br />Depois de tomar mais uma (só eu dessa vez, meu amigo já desistiu) na próxima estação decidimos ir ao bingo, fazemos isso frequentemente, eu, particularmente, nunca ganhei um centavo com isso.<br />O nosso maior problema com bingos era que sempre íamos quando estávamos bêbados, e isso é uma merda se você quer ganhar alguma coisa. Os números a sua frente simplesmente se multiplicam.<br />Desistimos depois de duas ou três partidas e decidimos seguir caminho.<br />Um amigo nosso passa de ônibus, nos vê e desce.<br />- Caralho – disse ele.<br />- Caralho – eu disse.<br />- Vocês estão indo pra onde?<br />- Pra casa.<br />- Vambora então.<br />Existe uma avenida onde só existem travestis e putas ali perto, decidimos desviar do nosso caminho e ir pra lá. É a boa (?) e velha (!) Avenida Indianópolis.<br />Logo no começo tinha uma barraca que vendia bebidas e paramos lá pra conversar um pouco.<br />Dessa vez nós três pedimos maria-mole.<br />Conversa vai, conversa vem, eu e o cara que estava comigo desde o começo já começamos a ficar realmente bêbados, quando dois travestis pararam ao lado da barraca e começaram a fumar maconha.<br />Por que não?<br />- Opa, posso dar uns dois aí?<br />- Claro, gracinha.<br />Fumamos os cinco e foi o pior baseado que eu fumei, muito ruim mesmo, parecia que tinha estourado meu pulmão. Depois mais pra frente todos nós concordamos com isso.<br />Pra não dizer que eu sou ingrato, pago uma maria-mole pra dupla de travecos e saímos dali.<br />Quando passamos perto da casa do cara que chegou depois ele foi embora.<br />- Bicha! – nós gritamos quando ele descia a rua.<br />Bem, éramos ainda nós dois, eu e o cara que estava comigo desde o começo.<br />Chegamos à última estação, mas ainda era um bom caminho até em casa, o metrô é que tinha acabado.<br />Já estávamos muito loucos e não tinha nada melhor pra fazer mesmo. Fomos num puteiro.<br />Era uma e meia da manhã quando chegamos.<br />A casa sendo meio nova, estava meio vazia, fazia sentido.<br />Eu não agüentava ficar em pé, por isso fui me sentar em cima duma mesa de bilhar que tinha lá nos fundos. Depois de um tempo falei pro meu amigo:<br />- Cara, vai lá e me escolhe uma que você achar melhorzinha e vamos acabar logo com isso.<br />Eu apaguei.<br />Depois de um tempo, meu amigo voltou com duas garotas, uma pra mim e a outra pra ele.<br />Eu não estava em condições de ver se ela era bonita ou feia, e também não me importava muito.<br />Depois de nem cinco minutos de conversa fomos os dois para os respectivos quartos, que diga-se de passagem, era um do lado do outro.<br />- Só um minuto gatinho que eu vou lá pegar minhas coisas.<br />Que mania mais feia ficar chamando os outros de gatinho.<br />A outra que estava com meu amigo também saiu do quarto.<br />- Aê, seu merda – gritei.<br />- Aê, pinto frouxo – ele respondeu.<br />Enquanto esperava percebi que aquilo ali já fora antes um quarto só, e que só havia divisórias de madeira nos separando, e as divisórias não chegavam até o teto.<br />Em pouco tempo as duas voltaram e começamos a fazer o que pagamos pra fazer.<br />Não haviam mais palavras nos quartos, só gemidos.<br />Eu tava indo bem quando do quarto do meu amigo vieram algumas risadas.<br />- Você tem alguma camisinha aí com você? – perguntou a puta do meu amigo pra minha puta.<br />- Putz, nem tenho.<br />- Droga, vou ter que ir lá pegar mais uma então.<br />A porta se abriu e logo se fechou.<br />- Tá tudo bem aí, cara? – perguntei.<br />- Tranqüilo, continua aí.<br />Eu continuei.<br />Depois de alguns instantes eu ouço:<br />- Aê, bunda branca, tá indo bem.<br />Olhei pra trás e vi meu amigo pendurado na divisória me olhando.<br />- Tá gostando cara?<br />- Preferia que fosse comigo, mas você tá indo bem. Posso entrar aí junto?<br />- Nem fodendo!<br />Ficamos ainda falando merda até a puta dele voltar, eu não tinha nem tirado o pau daquela buceta enquanto conversávamos.<br />Acabou tudo bem, os dois gozaram e logo estávamos do lado de fora, na rua.<br />- E aí, como foi – ele começou.<br />- Foi do caralho, muito bom. E a sua?<br />- Nossa, maravilhosa.<br />- Estranho – notei depois de alguns passos - o céu tá meio claro, né?. Que horas são?<br />- Caralho cara! Já são quase cinco da manhã!<br />- O quê? Não pode ser.<br />Olhei no meu celular.<br />- Puta que pariu! Era uma e meia quando entramos. Pagamos por meia hora... Onde, caralhos, enfiamos as horas restantes?<br />- Não me pergunte cara, acho que foi na bunda daquelas putas...<br />Até hoje achamos que entramos em algum tipo de portal naquela noite, as horas perdidas não faziam sentido e nunca mais voltaram, igual a todas as outras horas perdidas, mas nesse caso foi diferente.<br />- Ainda bem que estamos perto de casa.<br />- Só.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-89081457995345176722007-05-26T13:28:00.000-07:002007-05-26T13:29:07.299-07:00DESTILADOSO cara mais idiota do mundo estava sentado pensando em quão idiota ele era, mas não chegou a conclusão alguma, mas mesmo assim resolveu tentar.<br /> Tudo o que havia feito era estudar e estudar, queria ser médico, afinal seu pai também era médico.<br /> Entrou no primeiro bar e pediu uma dose de whisky, era isso o que Clint Eastwood bebia naquele filme com o Morgan Freeman, aquele de faroeste. Isso, esse mesmo.<br />Virou o copo sem pensar duas vezes, mas deveria ter pensado, porque depois foi correndo vomitar no banheiro.<br />Ele achou que assim pareceria um cara durão, mas descobriu que não era, pois além de não estar no velho-oeste, não andava a cavalo e nem tinha uma arma na cintura.<br />Voltou, se endireitou, olhou em volta, ouviu algumas risadas, mas não se importou. Só não entendia o porquê do Clint Eastwood não fazer careta quando bebia, parecia que até gostava.<br />Tentou de novo, mas agora pediu rum, era isso o que o Johnny Depp bebia naquele filme com o Legolas, aquele de piratas. Isso, esse mesmo.<br />Virou o copo, mas pensou duas vezes, o que no final das contas descobriu que não fazia a menor diferença, foi correndo ao banheiro.<br />Ele pensou que assim pareceria durão, mas descobriu que não, pois além de não estar num barco, ele continuava sem uma arma na cintura (mas agora pensava numa arma daquelas antigas). Será que um papagaio resolveria a questão? Decidiu que não.<br />Voltou ao balcão e pensou no que estaria fazendo de errado. Será que estava se baseando nos filmes errados? Decidiu tentar algo mais brasileiro. Pediu uma dose de pinga.<br />O garçom olhou feio enquanto enchia o copo, era ele quem provavelmente limparia o banheiro.<br />Antes de virar o copo ele sabia que, pelo menos, não fazia diferença nenhuma se ele pensava ou não na coisa. Preferiu não pensar em nada.<br />Virou o copo.<br />Mas dessa vez ele se concentrou em não sair do lugar, em não vomitar em cima do balcão. Ficou vermelho, lágrimas corriam do seu rosto e seus pêlos se eriçaram.<br />Era pior do que as outras, mas pelo menos essa ele conseguiu segurar dentro do estômago.<br />Esperou um pouco para ver o que acontecia.<br />...<br />Nada. Nada? Não pode ser! “Mais uma, por favor”.<br />Mais uma e lá foi ele virar o copo de novo.<br />Estranho, agora ele estava se sentindo quase durão. Decidiu pedir mais uma.<br />Virou o terceiro copo. Então era isso o que acontecia? Ele estava gostando, e pensou por que demorou tanto pra fazer isso. Checou a cintura para ver se havia alguma arma lá. Claro que não.<br />A quarta desceu macia...<br />Mas na quinta ele caiu do banquinho.<br />E na sexta desmaiou.<br />Morreu feliz por ter tentado.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-67616679207020590322007-05-26T13:27:00.004-07:002007-05-26T13:28:45.772-07:00DIÁLOGO- Deus?<br /> - É, Deus.<br /> - Nunca ouvi falar.<br /> - É quem criou eu e você, criou o céu e a terra e todas as coisas que existem nela.<br /> - Interessante, mas nunca ouvi falar. O que mais ele fez?<br /> - Bem, pra começar ele fez o céu e a terra eu e você e tudo o que tem nela...<br /> - Isso você já falou.<br /> - Em seis dias.<br /> - Poxa! E eu que demorei nove meses pra nascer.<br /> - E ele também tudo sabe, tudo vê e está em todos os lugares e momentos de nossas vidas.<br /> - Então cadê ele?<br /> - Você não pode vê-lo, mas ele está aqui sim.<br /> - Pra mim isso não parece grande coisa. Se bem que muitos de meus amigos têm o hábito de falar sozinhos. Estariam eles falando com Deus?<br /> - Não, eles bebem demais e são loucos.<br /> - E vocês não?<br /> - Não.<br /> - Não e...<br /> - Não e ponto final.<br /> - Sei... Então, de onde você falou que era mesmo?<br /> - Da igreja, e minha missão na Terra é ajudar os outros a seguirem o caminho de Deus e Jesus Cristo.<br /> - E quem é esse outro?<br /> - É o filho de Deus. Nós o matamos e...<br /> - Eu nunca matei ninguém!<br /> - Ele veio pra Terra para perdoar nossos pecados, mas acabou morrendo na cruz.<br /> - Credo. Mas peraí, se o pai dele sabe de tudo e pode tudo, por que ele deixou isso acontecer com o filho dele?<br /> - Ele é Deus, ele pode tudo. Não devemos questioná-lo. Ele escreve certo por linhas tortas.<br /> - Pra mim isso é estupidez. Ele me parece um tanto quanto sádico. Quer um gole? Está frio pra burro e é ótimo para se aquecer.<br /> - Não bebo, isso é errado.<br /> - É?<br /> - É sim, e se você não quiser queimar no inferno é melhor me seguir e ir direto pra igreja.<br /> - De inferno eu já ouvi falar, é um lugar ruim, mas duvido que seja pior do que esse pedaço de calçada. Por isso eu bebo, quando bebo eu me sinto no paraíso, esse você conhece, certo?<br /> - É pra onde todos queremos ir.<br /> - Então meu céu e inferno são aqui mesmo, um do lado do outro e minha única salvação é essa garrafa de pinga.<br /> - Só Deus é a salvação!<br /> - É mesmo? Não fiquei nada impressionado com o que você me contou dele, pra mim ele não parece grande coisa. Tudo o que eu preciso se encontra nessa garrafa, e se eu não encontrar, bem, eu compro outra.<br /> - ...<br /> - Que foi?<br /> - Tô pensando.<br /> - É só o que eu faço todo dia, além de pedir esmolas, claro.<br /> - Me passa a garrafa?<br /> - Mas você falou que não bebia.<br /> - Mudei de idéia, e me dá um pouco desse cobertor que tá um puta frio aqui.<br /> - Claro!<br /> - E você pode pedir pro seu cachorro parar de cheirar minha bunda?Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-25287377064355196082007-05-26T13:27:00.003-07:002007-05-26T13:27:54.632-07:00FELICIDADE MATAA coisa toda só havia piorado.<br />Desde a última vez em que a vira, tudo só piorou.<br />Tem comido pouco, dormido mal, o olhar agora é vago e parece meio embaçado, embaçado como vidro fosco.<br />E isso preocupava a todos, menos a ele. Cedo ou tarde a coisa deveria passar, afinal tudo passa, como Nelson Ned já dizia.<br />Mesmo assim desistiu de muitas coisas, mas sobretudo desistiu de tentar, e isso para muitos era o fim do poço, mas para ele era só o começo, sabia que a coisa sempre poderia piorar.<br />Mas não melhorar. Se melhorar muito, a coisa se torna perfeita, e a perfeição é algo a se buscar, mas nunca alcançar.<br />Como a felicidade.<br />Ele já conhecera muitas pessoas que se sentiam felizes, que se julgavam perfeitas, mas isso era algo que ele não queria pra ele, sabia que se as pessoas tivessem um senso crítico igual ao dele coisas ruins aconteceriam.<br />Como suicídio, por exemplo.<br />Ele sabia que se um dia se tornasse feliz, nada mais valeria a pena, a coisa não poderia ficar melhor.<br />Melhor não fica, mas pior, bem, acho que ficou claro que pior sempre dá pra ficar.<br />Por isso que seguia vagando, sem rumo nem direção, pois ele sempre achava que quem não soubesse pra onde ia, qualquer lugar serviria.<br />E bebia muito.<br />Isso lhe dava algum prazer, mas nada era perfeito, afinal não tinha a mulher de seus sonhos como uma vez tivera. Estranho, mas agora pensava que quando a tinha faltava alguma coisa, mas agora sabia que era feliz naquela época. Ficou contente de descobrir isso agora, pois isso salvou-lhe a vida, se tivesse essa consciência antes, já teria se matado.<br />E ficou assim durante algum tempo, até o dia...<br />Até o dia em que o telefone tocou.<br />- Alô?<br />- Alô, Daniel?<br />- Eu mesmo. Quem fala?<br />- Shirley, lembra de mim?<br />...<br />Ele engasgou com o coração que saltou-lhe à boca.<br />- Sim, sim, claro!<br />- Tudo bem?<br />- Tudo sim, e você?<br />- Vou bem... Nossa já faz tanto tempo, tenho tantas novidades.<br />- Bem, eu acho que continuo na mesma, quer dizer, ainda vivo.<br />- Não sei, pensei muito antes de te ligar. Sabe, eu gostaria de saber se a gente podia se ver um dia desses... colocar as coisas no lugar e, quem sabe, relembrar os velhos tempos...<br />- Quer saber de uma coisa?<br />- O quê?<br />- Vá se foder, sua puta!<br />E desligou o telefone, ele não estava preparado para o suicídio, não ainda.<br />Sabia que se voltasse, a coisa poderia se tornar perfeita.<br />Felicidade é algo traiçoeiro.<br />E muitas vezes leva à morte.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-29904213822800816872007-05-26T13:27:00.001-07:002007-05-26T13:27:35.746-07:00GANHANDO O OSCAR EM TRÊS ATOS1<br /> - Infelizmente o Sr. Daniel não pôde comparecer ao recebimento, mas ele nos enviou uma carta:<br /> “Senhoras e Senhores:<br /> Me desculpem por não comparecer ao show de vocês, mas pra mim esse prêmio não vale merda nenhuma. Eu passei o que passei não para no final receber um Oscar, e sim porque eu tinha que sobreviver e escrever era o melhor que eu sabia fazer.<br /> Minha alma tem preço, e não será por uma droga de estatueta que só serve pra impressionar as visitas que eu vou vendê-la. Se fosse por uma garrafa de whisky eu já teria ido.”<br /> - Eu não sei o que dizer...<br /><br /> 2<br /> - Eu quero agradecer a presença de todos aqui hoje. Também quero agradecer aos fãs que me ajudaram a chegar até aqui. Na verdade eu só quero agradecer aos fãs que de alguma forma me deram bebidas, e aos que não deram, bem, você ainda têm tempo.<br /> Quero agradecer também a iniciativa de algumas pessoas que mudaram a premiação do Oscar de uma simples estatueta, que só servia pra impressionar as visitas, para uma grandiosa garrafa de whisky, e vejam!, é um whisky dezoito anos!<br /><br /> 3<br /> - Obrigado pela presença de todos. Eu só queria dizer que é uma honra estar aqui hoje. Quero agradecer aos meus fãs que me apoiaram durante todos esses anos e minha família que sempre me ajudou em tudo.<br /> Para alguns isso aqui é só uma estatueta pra impressionar as visitas, mas pra mim isso é um sonho que finalmente se realizou. Agora é sério gente, cadê minha garrafa de whisky? Vocês me prometeram uma.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-79480632100344073402007-05-26T13:26:00.004-07:002007-05-26T13:27:14.208-07:00INDO PRO TRABALHO08:00amAtrasado de novo, penso comigo.<br />A primeira coisa que eu sempre faço de manhã é tentar me lembrar do sonho que tive. Sonhei com tapetes voadores. Depois faço o que tenho que fazer e saio de casa. Pego o metrô lotado, mas com um pouco de sorte e agilidade me desvio da maior parte do pessoal e consigo um lugar – um bom lugar.<br />Pego meu livro e começo a ler.<br />Depois de algumas estações não se consegue mais entrar no vagão. Isso é terrível! Terrível! Sobretudo pra quem está em pé, mas como estou sentado, não ligo muito.<br />Uma senhora (muito gorda) parou diante de mim com uma sacola grande e vermelha e começou a falar algo sobre a educação das pessoas hoje em dia, que não davam seus lugares para velhos indefesos. Pensei num bocado de coisas pra falar pra velha, mas preferi deixar a oportunidade passar. Baixei o livro, levantei os olhos e disse sorrindo – um sorriso sarcástico:<br />- Não.<br />Então a moça do meu lado meio contrariada levantou-se e deixou a velha sentar.<br />As pessoas em volta ficaram balbuciando coisas sobre mim, mas tinha coisa mais importante a fazer. Oras! Estava lendo.<br />Desci após algumas estações, e já havia me esquecido do incidente com a velha, quando alguém do meu lado disse:<br />- Você não deveria ter feito aquilo com a velha, deveria deixá-la sentar.<br />Me virei e vi um cara igual a cem outros caras que pegam o metrô pela manhã. Não respondi.<br />- Acho pessoas como você muito sacanas.<br />- Muitas pessoas são sacanas hoje em dia – respondi – mas algumas deixariam a velha sentar, eu não.<br />E o cara começou a ficar vermelho – muito vermelho – e falar várias coisas que eu não dava a mínima. Então de saco cheio eu disse:<br />- Escuta cara, algumas pessoas menos civilizadas que eu, brigariam com você por causa disso.<br />- Por quê? Você quer brigar?<br />Pensei um pouco sobre a oferta e respondi:<br />- Foda-se! Eu não sou tão civilizado assim.<br />E lá estávamos nós rolamos pelo chão...<br />Depois dos guardas nos separarem pensei um tanto contente que pelo menos nessa eu levei a melhor.<br />Estava sujo, suado e amassado e decidi que não ia trabalhar (principalmente pelo nariz que ficou parecendo uma batata podre). Sai do metrô sorrindo, e o cara muito nervoso seguiu seu caminho metrô adentro.<br />Eu preferia brigar com esse cara todo dia a ter que ir trabalhar. Bem, se ele estiver lá amanhã eu faço a proposta.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-58451915887648541152007-05-26T13:26:00.003-07:002007-05-26T13:26:52.055-07:00IRMÃS GÊMEASLá estava eu de novo com um copo na mão nessa grande luta contra a vida. Pelo menos o copo já meio vazio coisa que me ajudou a encarar as coisas de uma maneira muito mais interessante.<br />Acabei meu copo e fui até o bar enchê-lo de novo. Ôh lugarzinho mais besta esse que eu fui me meter. Vivo fazendo essa merda e vivo me desprezando depois. Mas a idéia de beber de grátis sempre me agradou.<br />Como eu fui lá pra beber acabei me concentrando só nisso, depois de umas cinco doses eu já não tava achando mais o lugar e as pessoas tão bestas assim, eles estavam quase simpáticos.<br />Eu até que estava me sentindo bem, e pensava se no final do dia (quando já estivesse na minha cama) eu poderia dizer que esse foi um dia ganho. Mais um round que eu coloquei a vida na lona e consegui um pouco mais de tempo.<br />Foi então que vi a morena...<br />Foi então que vi a morena, e impulsionado pela bebida pré-ingerida fui lá falar com ela.<br />Confesso que não foi nada difícil, é aquele papinho estupidamente besta que funciona quando a outra pessoa está afim. E acho que também não sou tanto de se jogar fora, eu me acho um verdadeiro lixo, mas muita gente me acha simpático (coisa de gordinho) e algumas vezes até bonito; algumas mulheres até já se apaixonaram por mim, vai saber...<br />Verdade seja dita, a coisa funcionou também pelo fato da morena (que não consegui guardar o nome) estar tão bêbada quanto eu.<br />A coisa toda começou a esquentar quando soltei o bom e velho “vamos pra um lugar mais calmo?”. “Claro” ela disse.<br />Tem dias que Deus sorri pra você.<br />- Mas espera um pouco que eu tenho que falar com a minha irmã – disse ela.<br />- Vai lá – concordei.<br />Esperei alguns minutos e quando ela voltou, fiquei surpreso pelo fato de que a irmã ser igual a ela. Poxa! Eram gêmeas! E a outra estava, pelo visto, mais bêbada que a primeira.<br />“Será que rola?...” pensei comigo mesmo.<br />- Será que rola o quê? – perguntou a morena.<br />Pensei alto demais.<br />- Olha – disse a primeira morena – minha irmã tá muito bêbada e eu não vou deixá-la sozinha aqui. Acho que ela vai ter que ir pro Motel com a gente.<br />- Não tem nenhum problema – eu disse com o sorriso mais malicioso da minha vida.<br />Ela sacou o sorriso.<br />- No que você tá pensando, hein? – perguntou ela.<br />- Nada de mais, nada de mais...<br />Tem dias que Deus sorri pra você e diz: Vai que é sua garoto!<br />Fomos ao Motel...<br />Fomos ao Motel e... bem, acho que não preciso escrever aqui o que aconteceu lá, porque creio eu que você, ser inteligente, já conseguiu imaginar tudo.<br />Hum... melhor não. É melhor eu escrever o que aconteceu mesmo, porque você deve estar imaginando a coisa toda errada, bem, nem toda.<br />Fomos ao Motel e as duas se jogaram na cama e começaram a tirar a roupa, e quando chegou a minha vez de se jogar na cama também a morena disse:<br />- Onde você pensa que vai? A gente falou que viríamos pro Motel com você, mas não necessariamente transaríamos com você.<br />- Mas...<br />- Mas nada. A gente pagou boa parte do Motel também.<br />- Mas... – eu não conseguia falar mais do que isso.<br />- Mas nada. Você pode ficar aí e olhar, e se a gente quiser você pode entrar.<br />Tem dias que Deus além de sorrir pra você, diz no tom mais irônico do mundo: Você pode ver, mas não tocar.<br />Por isso que eu deixei de acreditar nele faz tempo...<br />Bem, era melhor do que nada. “A gente se contenta com os restos que a vida deixa pra gente...” acho que alguém já disse isso, caso contrário a frase é minha mesmo, mas nesse caso, eu consegui roubar um pouco mais do que isso.<br />No geral foi muito proveitoso da minha parte ficar lá olhando aquilo tudo. É arquivo mental pra muitas e muitas punhetas que virão. É claro que elas não me chamaram pra participar, mesmo eu tendo insistido mais de uma vez.<br />Voltei pra casa muito mais tarde naquele mesmo dia, e antes de dormir decidi que aquele foi um bom dia.<br />Nunca mais nos encontramos, mesmo eu voltando lá algumas vezes depois e saindo de lá apenas com um copo de bebida barata e esperanças quebradas.<br />Tem dias que a coisa toda acaba dando certo, mas são muito poucos. Não se pode ganhar simplesmente todas, mas as poucas que a vida te deixa ganhar é bom que você dê valor, porque você nunca saberá quando será a próxima.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-28710116092957403412007-05-26T13:26:00.001-07:002007-05-26T13:26:29.830-07:00LOVE STORY SEM MUITO AMORSempre fui um grande fã do Love (a casa de todas as casas) e sempre que meu dinheiro permitia eu passava por lá. Era um ótimo lugar para se conseguir mulheres, isso se você não se importar de que 98% das mulheres de lá são putas ou travecos (em menor parte) e os outros 2% são de mulheres que não fazem idéia do lugar que é o Love. Com muita, mas muita sorte mesmo, você acaba saindo com a grande minoria de mulheres do lugar que talvez ache que você é um cara legal e não apenas alguém procurando basicamente sexo, eu, por exemplo, nunca consegui isso. Mas que a verdade seja dita: Todos vão ao Love procurando por sexo, a diferença é que muitas lá cobram por isso.<br />O Mike Tyson foi preso lá. Até ele sabia das coisas.<br />Já estava sem mulher fazia um tempo e precisava de alguma coisa que fosse rápido e fácil, sem muitas complicações, e nessas situações só dois lugares me vêem à cabeça: puteiros ou Love. Alguma coisa me dizia que a segunda opção, apesar de não ser muito garantida, seria a melhor escolha.<br />Me encontrei com um amigo e fomos primeiro dar um pulo numa praça da conceição pra fumar. Maconha é sempre bem-vinda, não importa a ocasião.<br />Acho que o maior problema da maconha é que ela acaba te deixando meio lerdo, o que é péssimo para um sábado de noite numa cidade como essa. Eu só percebi que três caras vinham em nossa direção quando eles estavam quase em cima da gente. Todo o efeito passou numa velocidade superada só pela da luz. A mão já se encontrava fechada quando o primeiro deles falou:<br />- Opa.<br />- Opa.<br />- A gente não tá aqui pra atrasar o lado de ninguém, tá todo mundo na paz.<br />- Sem problema.<br />Os três nos cumprimentaram e se sentaram mais ao lado para cheirar sua lata cheia de cola que continham loucuras pouco conhecidas por mim. Cada um na sua, imagino.<br />Fomos embora quando só havia uma ponta, que decidimos deixar para mais tarde. Nos despedimos e saímos antes que o metrô fechasse.<br />- Esses caras saíram do chão. Nem vi eles chegando.<br />- Eu não duvido. Pelo menos eles foram de boa.<br />A primeira parada foi num boteco do centro onde bebemos e comemos um pouco, depois sem mais problemas chegamos ao Love.<br />Antes de entrar eu bebi na porta um copo cheio de uma tal de 61 que quase me fez vomitar. Depois com mais uma dose de conhaque eu estava pronto pra entrar.<br />O grande problema daquele lugar, na minha opinião, é que sempre tem caras maiores do que eu, e nesse dia foi difícil encontrar alguém que fosse menor. Maldição! Assim a concorrência fica desleal num lugar onde tudo o que importa é a grana da sua carteira e sua aparência. Quanto mais molas seu tênis tiver, melhor. Só que meu all star já estava com furos na sola.<br />O lance é beber pra ver se você se arrisca com as feias, ou com muita sorte alguma das bonitas bebeu tanto quanto você pra te achar um cara tão musculoso quanto os outros.<br />A bebida já estava começando a destruir meu estômago.<br />- Hey, Gu. Vamos lá fora fumar um?<br />- Demorou!<br />Aqueles lados do centro estavam complicados. Polícia pra todos os lados. Fomos em direção à Praça da República e fumamos um escondidos perto de uns orelhões. Por precaução meu amigo escondeu o que ainda tinha de maconha dentro de um vazo com uma planta.<br />- Aí, se não voltarmos juntos um dos dois tem que passar aqui e pegar o bagulho.<br />- Ok!<br />Voltamos pra dentro.<br />Mesmo depois de horas ninguém naquele lugar me achava simpático. A situação já estava se complicando.<br />Acho que meu amigo estava achando o mesmo, porque ele saiu fora cedo. O lance era arriscar com as feias. Depois de mais algumas doses meus problemas com a aparência alheia estaria resolvido. Com sorte as mulheres de lá fariam o mesmo e talvez eu acabasse a noite sendo bonito pra alguém, no mínimo simpático.<br />Meu amigo deveria ter ficado um pouco mais, porque logo depois uma loira muito gostosa subiu no palco de saia e arrancou a calcinha no meio de uma platéia de meia dúzia de caras com a boca aberta. Nossa, que gostosa! De onde eu conhecia essa loira?...<br />Claro que ela fazia parte das mulheres que cobravam uma boa quantia pra comê-las. Quando eu me atrevi a passar a mão nela ela me deu um chute que por pouco não pega na minha cara e ainda disse que eu faria o que quisesse com ela por R$ 200,00. Tá maluca! Ninguém ali se atreveu a chegar muito perto depois dessa, mesmo depois que ela tirou a blusa.<br />Um cara passou a mão na perna dela e quase levou um chute na cara também. A diferença é que na hora que ela ia chutar ele mostrou a carteira de policial o que fez ela mudar de idéia na hora certa. Ele mandou ela descer. Pela cara das pessoas em volta eu senti que se ela descesse a maioria das pessoas ali teria um bom motivo pra espancar o policial; ela percebendo a mesma coisa continuou dançando, o policial também percebeu e se mandou.<br />Lembrei da onde eu conhecia aquela loira! Era do melhor puteiro que eu raramente freqüentava. Vadia! Eu poderia tê-la comido por R$ 70,00 e agora ela me cobrava R$ 200,00. Pelo menos ali estava cheio de idiotas que pagariam o preço que ela pedisse. Como daquela moita não iria sair coelho decidi que era hora de encarar as muito feias do lugar.<br />Saí e tomei mais duas doses de conhaque.<br />Dei sorte logo na primeira. Além de ser muito feia ela estava muito bêbada, o que poderia me ajudar se eu quisesse me dar bem por ali.<br />Joguei ela no canto e parti pro tudo ou nada. Se não fosse com ela duvido que fosse com outra, o lugar já estava esvaziando.<br />Ela colocou a mão dentro da minha calça e eu saquei um peito dela pra fora.<br />- Hum... É dessa rola que eu estava precisando essa noite.<br />- Então achou, baby – falei com a boca meio cheia.<br />- Me leva pra casa?<br />Só se for de ônibus, pensei.<br />- Tem um motel aqui do lado – sugeri.<br />- Não, eu quero que me leve pra casa!<br />- Onde você mora?<br />- Em moema.<br />Do mesmo jeito que dois mais dois não são cinco, aquela mina não morava em moema.<br />- Eu prefiro te levar pro motel aqui do lado.<br />- Eu só vou te dar se for na minha casa.<br />Na minha casa é que não iria ser.<br />Depois de algum tempo eu desisti dela também. Droga! Não encontrei nenhuma foda naquele lugar.<br />Já que ela não iria dar pra mim o melhor era ir embora e ver se a paranga ainda continuava por lá.<br />Passei em frente a um estacionamento e vi a loira sem calcinha sendo acompanhada por um playboy que mal conseguia ficar em pé, provavelmente por causa da bebida. Achei engraçado. Alguém ali iria se dar mal e não seria a puta.<br />Claro que com o meu senso de direção ridículo eu demorei um pouco pra achar o exato lugar onde meu amigo escondeu. Na verdade depois quando eu achei o lugar vi que a paranga não estava mais lá. Com sorte meu amigo passou lá antes e pegou. Mas vejam só! O que temos aqui?! Minha nossa! É o que eu estou pensando? Era branco como eu imagino que a neve deveria ser. Coloquei um pouco na boca e constatei maravilhado que era cocaína. Coloquei no bolso e saí em direção ao metrô. Quem deixou aquilo ali deve ter um ódio mortal por mim. Azar o dele, eu acho ele máximo.<br />Dois dias depois ainda me falaram que aquilo ali era farinha da boa e que tinha mais de R$ 100,00 ali em coca. Coca da boa. Minha noite não foi de toda perdida. Mas a de alguém foi.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-47315433138687628322007-05-26T13:25:00.002-07:002007-05-26T13:41:28.386-07:00MÉDICOS MORREM?Eu tive um amigo uma vez, que dizia que médicos eram as piores pessoas do mundo, que ninguém devia confiar neles. Esses eram seus motivos: para se tornar um médico a pessoa tem que ser rica, porque ela tem que estudar em tempo integral, sendo assim ela não poderia trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Se ela é rica, por que infernos ela quer se matar de estudar? E ainda mais pra ter que ver um monte de sangue e gente morrendo. E quando finalmente se formar, trabalhar tanto que não terá tempo de ver sua família. Ou seja, pra ser médico tem que ser muito burro.<br />Filho da puta ingrato.<br />Eu aqui salvando pessoas e dando meu suor e sangue por elas e ainda tenho que ouvir isso.<br />Ele também não entendia por que os médicos morriam...<br />Que seja. Hoje sou médico formado, tenho meu consultório, uma ex-mulher que me cobra os olhos da cara de pensão e dois filhos que são as coisas mais lindas do mundo.<br />Hoje é segunda-feira e de manhã fui ao dentista.<br />Meu dentista usa aparelho. Como pode um dentista usar aparelhos nos dentes? Não me pergunte, pergunte a ele.<br />No final de semana fui cortar o cabelo. Meu cabeleireiro é careca.Como pode um cabeleireiro ser careca?Também não sei, pergunte a ele. E isso me faz lembrar que amanhã tenho que ir ao oftalmologista, e sim, ele usa óculos. Acho que se tivesse que ir ao fonoaudiólogo ele seria fanho. Se eu fosse ao urologista, aposto que ele seria eunuco.<br />Acendo um cigarro.<br />As segundas-feiras são muito paradas, por isso que depois do quinto cigarro decido que já é hora do almoço.Vou ao restaurante de sempre. A moça que atende tem uma bunda maravilhosa. Sempre fico olhando pra ela, ela nunca olha pra mim.<br />Na saída vejo um mendigo pedindo esmolas na calçada. Confesso que nunca vi um mendigo tão gordo na minha vida. Eu que como bem não estou desse jeito, por isso penso que é melhor não dar nada e ajudá-lo com uma dieta.<br />Ele sorri quando eu passo.<br />Isso me faz lembrar de um cliente que é rico, o safado toda vez que vai ao meu consultório está com um carro diferente (não sei por que esse cara me escolheu, acho que ele foi com a minha cara, eu nem sou tão bom assim), a verdade é que ele está sempre estressado e reclamando de alguma coisa. Nunca o vi sorrir. Acho que esse é o preço que ele paga por ter todos aqueles carrões.<br />Eu queria pagar esse preço e ter que carregar o fardo de ter uns cinco carrões.Será mesmo? Não, acho que não.<br />Depois do todas as consultas do dia, atravesso a rua e vou ao consultório de um amigo meu. Nos vemos quase todos os dias, jogamos cartas de vez em quando.Antes de apertar o botão do interfone acendo um cigarro. Tenho más notícias pra ele.<br />Aperto o botão.<br />- Quem é?<br />- Eu.<br />- Pode entrar.<br />Eu entro. O consultório dele é mais bonito que o meu. Se bem que ele se divorciou bem depois de mim. Dá pra notar que tem um toque feminino por aqui.<br />Entro na sala, sento na cadeira de frente pra ele e olho firme nos seus olhos. Ele está com um olhar estranho.<br />Ele tem uma garrafa de whisky aberta em cima da mesa.<br />- Tenho más notícias pra você amigo – ele começa.<br />- Opa! Como assim? – eu pergunto.<br />- Lembra daqueles exames que você fez comigo semana passada? Bem, você tem câncer de pulmão.<br />- Puta que pariu!<br />Acendo um cigarro.<br />Agora é minha vez.<br />– Lembra dos exames que você fez na semana passada comigo? Bem, você tem cirrose hepática.<br />- Puta que pariu! – ele diz.<br />Ele dá uma golada no whisky.- Essa noite vai ser longa – ele diz depois de um tempo – temos que comemorar.<br />- Me dá um gole dessa porra.<br />- E você me dá um cigarro.<br />Médicos que morrem, dentistas com aparelho, oftalmologistas de óculos... Onde esse mundo vai parar?Não dá pra se confiar nessas pessoas. Não dá pra se confiar num médico que morre.Acho que o filho da puta daquele meu amigo tinha razão. Médicos são uns fodidos mesmo.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-70448717387544156682007-05-26T13:25:00.001-07:002007-05-26T13:25:39.823-07:00NOITE BOA NO MOTELEu sempre fui em motéis baratos, nada de banheira com hidromassagem, nem cama redonda, pensando bem nem espelhos no teto. Ficava com certa inveja dos meus amigos quando eles contavam histórias que continham frigobar ou teto solar. Mas sabia que um dia eu também poderia contar uma história dessas.<br />Conheci uma tal de Fabiana quando estava muito bêbado num canto qualquer de São Paulo. Bebemos muito, conversamos pouco e nos agarramos a noite inteira na pista. Tentei de tudo, mas naquela noite na pista não aconteceu nada, se eu tentasse mais eu poderia ser acusado de estupro. A noite acabou não sem antes de nos despedirmos meu amigo gritar do lado dela:<br />- Caramba, cara! Essa foi a melhorzinha dos últimos tempos!<br />Obrigado, meu caro amigo.<br />Eu achei que depois dessa ela nunca mais me ligaria, na verdade quando já estava no meio da semana eu estava agradecendo por ela não me ligar, porque eu não me lembrava da cara dela. Mas dos peitos eu lembrava.<br />Quinta-feira ela me ligou.<br />- Oi, é a Fabiana, lembra de mim?<br />- Claro – do nome eu me lembrava. – Tudo bem com você?<br />- Tudo sim, e você?<br />- Eu vou indo bem.<br />- Então, eu estava pensando se a gente poderia se ver de novo.<br />Meu deus, ela era bonita? Era feia? Eu não me lembrava de nada, tudo o que eu me lembrava era “Caramba, cara! Essa foi a melhorzinha dos últimos tempos!” Por via das dúvidas...<br />- Claro que podemos – respondi não tão prontamente. – Quando?<br />- Como eu trabalho só posso no fim de semana. Que tal no sábado?<br />- Por mim tudo bem. Você me liga?<br />- Ligo sim... Mas por curiosidade, você trabalha?<br />- Não.<br />...<br />- Tá bom, eu te ligo no sábado pra gente sair.<br />- Ok. Beijos.<br />- Beijos.<br />Agora não tem mais escapatória. É bom você rezar para que ela seja no mínimo gostosa.<br />Por sorte na sexta-feira eu recebi uma grana dos quatro dias e meio que eu trabalhei no último emprego. Boa parte eu transformei em bebidas e cigarros.<br />Sábado de manhã ela me ligou, mas como eu não me sentia bem eu não atendi. Depois de uma hora ela me ligou de novo.<br />- Nossa, demorou pra atender.<br />- Isso geralmente acontece quando eu estou dormindo.<br />- Você tava dormindo? Já são três da tarde.<br />- Eu acordo todo dia esse horário. Se acordo antes fico de mau-humor.<br />- Pelo visto nem vamos sair hoje...<br />- Posso te ligar quando eu acordar?<br />- Tá bom. Mas vê se não me liga muito tarde.<br />- Pode deixar. Vou voltar a dormir agora.<br />- Beijos.<br />Quase oito da noite.<br />- Oi, sou eu.<br />- Eu pensei que não fosse mais me ligar.<br />- É que eu tava dormindo. Agora tô me sentindo ótimo. Vamos sair?<br />- Claro. Pra onde você vai me levar?<br />Eu pensei num motel que muitos dos meus amigos já tinham ido. Era promissor, mas também era caro.<br />- Não sei, estou meio sem grana...<br />- Não tem problemas, a gente divide tudo.<br />Fiz as contas. Tava dentro do orçamento.<br />Marcamos num bar próximo ao motel em duas horas. Ela morava bem longe.<br />Hum... até ela chegar dava tempo de dormir mais um pouco. A noite seria longa.<br />Acordei atrasado. Merda! Será que ela ainda estaria lá? Preferi não ligar, ao invés mandei uma mensagem e disse que chegaria em trinta minutos. Cheguei em quarenta e cinco.<br />Incrível! Ela estava lá. O que essas mulheres não fazem por uma boa noite de sexo. Como já era tarde não havia tempo pra preliminares. Fui direto ao assunto.<br />- Então, como já está tarde é melhor descolarmos um lugar pra dormir.<br />- Você não quer beber um pouco antes?<br />- Claro.<br />Maldição! Ela era feia. No que meu amigo tava pensando quando disse que aquela era a melhorzinha nos últimos tempos? Provavelmente na última que ele me viu ficando. Ele tinha razão.<br />- Me vê uma maria-mole, por favor – pedi ao cara do bar.<br />- Nossa, pensei que fosse beber cerveja.<br />- A cerveja não me fez muito bem ontem.<br />Quanto mais bêbado melhor. Quanto mais bêbado melhor.<br />- Olha – disse o cara do bar – a gente já está fechando. Se quiser mais alguma coisa é melhor pedir agora.<br />- Me vê mais uma, por favor.<br />Do lado de fora do bar.<br />- Pra onde a gente vai agora? – ela perguntou.<br />- Pro outro lado da rua.<br />- No motel?<br />- É.<br />- Safado. Vamos então.<br />O quarto era realmente caro.<br />Então foi por aqui que todos eles já passaram? Nada mal, nada mal... Tv a cabo com filmes pornôs, espelhos no teto, e o melhor de tudo: hidromassagem com teto solar. Isso que é vida! O quarto seria a melhor coisa que me aconteceria na noite. Mas eu precisava beber mais, muito mais. Aquela não seria uma noite fácil.<br />Abri o frigobar. Só coisa boa. Ataquei o whisky.<br />- Mas depois a conta vai ficar muito cara – ela disse.<br />- Relaxa. É só colocar urina nas garrafinhas de whisky e água nas de vodca. Meus amigos sempre fazem isso.<br />Quanto mais bêbado melhor. Quanto mais bêbado melhor.<br />- Já que você diz.<br />- Na verdade eu não tive tempo de tomar banho em casa. Vou tomar um banho rapidinho e já volto. Não gosto de fazer essas coisas fedido.<br />- Quer que eu vá com você?<br />- Não precisa baby. Vá se aprontando que eu já volto.<br />Corri pro banheiro, mas não sem antes colocar umas quatro garrafinhas de bebidas no meu bolso da calça. Ela nunca entenderia que eu precisava ficar sozinho naquela banheira com teto solar que eu sempre sonhei.<br />Abri as torneiras, tirei a roupa, acendi um cigarro e abri o teto solar. Era como eu imaginava, era bom mesmo não sendo porra nenhuma. Bebi as quatro garrafinhas numa seqüência que nem eu acreditei. O cigarro estava quase no fim.<br />- Você tá bem aí dentro?<br />- Claro, já estou saindo.<br />Bebi o restinho que tinha sobrado numa das garrafinhas, respirei fundo pra não vomitar e saí.<br />Quanto mais bêbado melhor. Quanto mais bêbado melhor.<br />Ela estava pelada na cama, até que não era tão ruim assim. A bebida estava realmente ajudando.<br />Deitei na cama e fizemos o que estávamos lá pra fazer. Não muito, na verdade. Depois de dez minutos comecei a achar que tinha bebido demais e talvez não conseguisse, não naquela noite.<br />- Vamos, benzinho, você consegue.<br />- Eu estou tentando.<br />- Tá indo bem, não pára.<br />- Droga!<br />- O que foi?<br />- Preciso ir ao banheiro.<br />Vomitei. Lavei o rosto e depois voltei.<br />- Tá se sentindo bem?<br />- Agora estou melhor.<br />Agora sim. Agora estava indo bem.<br />Fomos até o fim. Foi bom, mas sabia que poderia esquecer qualquer outra tentativa naquela noite. Dormi enquanto ela foi ao banheiro tomar banho.<br />Quando ela voltou ficamos ainda um pouco deitados juntos, mas quando eu percebi que ela estava dormindo eu me levantei e fui pra banheira de novo com duas latas de cerveja que eu tinha trazido de casa e colocado pra gelar no frigobar.<br />Fiquei lá deitado durante um tempo olhando pro céu e fumando alguns cigarros. Depois de um tempo ela levantou e bateu na porta.<br />- Você tá bem aí?<br />Não respondi. Acendi um cigarro.<br />Consegui ouvir ela se trocando e depois gritar “tchau, seu imbecil” antes de bater a porta.<br />Mas que droga. Aquela noite era minha, não dela. Estava em paz e não queria dividir aquilo com ninguém. A noite estava linda.<br />Depois de um tempo pensei “droga, eu não tenho mais dinheiro”, mas logo em seguida eu me lembrei “tudo bem, cara, é só encher as de whisky com mijo e as de vodca com água”. Então estava tudo bem.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-52311654633540590602007-05-26T13:24:00.003-07:002007-05-26T13:24:57.590-07:00O FUNDO DO POÇOBeber pra mim foi sempre uma saída, a solução para todos os meus problemas. A solução para os problemas de todo mundo. Mas o maior problema é que para alguns problemas nem doses cavalares de cachaça ajudam, daí você tem que passar para a próxima fase de autodestruição. É o que chamo de visualização do fundo do poço. Eu já passei por isso. Só não digo que estive no fundo do poço porque isso é algo muito relativo. Não existe o tal fundo do poço pelo simples motivo que você sempre pode piorar a sua situação, não há nada que você sinta ou passe que não possa ser piorado. A questão é você saber se quer sair do poço ou simplesmente ir mais fundo. E essa é uma questão complicada.<br />Não sei o que se passa comigo, se eu faço isso por desespero ou por curiosidade, mas chegar perto do fundo do poço foi sempre algo que eu busquei, sendo consciente ou inconscientemente. Um tipo de prova que eu tenho que passar. Mas muito mais difícil do que chegar ao fundo do poço é conseguir sair de lá. E quando se está no fundo se está sozinho, ninguém além de você vai poder te ajudar. Não existe purgatório pior do que esse. A salvação se encontra muito longe, muitas vezes a luz no começo do poço nem pode mais ser vista, e se você não consegue ver uma saída no escuro será muito mais difícil. Algumas pessoas realmente descem fundo no poço. E quando não há luz de esperança só há escuridão cheia de desespero, e se desesperar na escuridão do poço é o pior que alguém pode fazer. Muitas vezes esse é um caminho sem volta.<br />Quando me sinto mal eu não procuro uma coisa que me ajude. Quero sentir em mim o pior do mundo. Quero cada vez mais; mais e pior. Quero saber até quão fundo posso ir.<br />Por algum motivo eu sei que quem visitou o fundo do poço e conseguiu sair de lá (nunca ileso, porque você nunca volta do mesmo jeito que foi) ele será a pessoa mais realizada do mundo. Você conheceu o inferno e conseguiu voltar para contar sua história. Talvez a saída esteja no fundo do poço. Quem sabe?<br />Que a vida dê a pior parte dela pra você, que ela chute suas bolas, cuspa na sua cara, e que nem isso te derrube, que nem isso te deixe de dizer olhando pra cara ela “É só isso que você consegue, sua puta?” Claro que vai ser a hora em que ela realmente vai te espancar mais, mas sempre esteja preparado pro pior.<br />Mesmo que chegue o dia em que você realmente deseje morrer pra sair da merda, que nem a morte pode ser pior do que isso (e realmente duvido que possa), lembre-se de que você será um dos poucos que lutou com a vida todos os malditos rounds e que chegou ao final ainda de pé, enganando a morte todos os dias, mas nunca fugindo dela; lembre-se que ainda o paraíso te espera. Bem, eu acho que espera. E que toda sua espera não seja em vão, que um mundo de maravilhas te aguarde, mas se ao final de toda essa merda que você passou você descobrir que não existe recompensa, apenas pense que o pior de tudo você já passou, que tem mais marcas e cicatrizes que qualquer babaca com dois carros na garagem e um apartamento na praia. Sim, o pior de tudo já passou e tudo o que você pode fazer é comemorar sentado com uma garrafa de cerveja na mão e relaxar. É o que separa os garotos dos homens: uma vida vivida por nada ou uma vida arriscando tudo.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-36608685917838428452007-05-26T13:24:00.001-07:002007-05-27T10:32:35.245-07:00SE AO MENOS EU GOSTASSE DE FUTEBOLHoje é Domingo. Dia de futebol. Como eu sei disso? Oras, é só escutar as pessoas lá fora gritando e soltando fogos. Isso me faz lembrar que é provável que meu pai esteja lá embaixo assistindo ao jogo. Abro a porta do meu quarto e sim, ele está assistindo ao jogo.<br />Droga! Assim a televisão fica ocupada. Se bem que dá no mesmo. Tv no Domingo é uma merda, por isso, talvez, que eles passem os jogos de Domingo. Dá as pessoas algo que comentar na segunda-feira no trabalho.<br />Pra mim que não estou trabalhando dá no mesmo, se bem que eu odiava as pessoas se divertindo com os outros por causa do time que tinha perdido, ou algo assim.<br />As pessoas se tornam estranhas quando o assunto é futebol, é incrível! Você sabe exatamente o que eu estou falando, pois é provável que você seja uma delas.<br />A maioria das pessoas que eu não conheço, mas querem puxar assunto, já chegam falando sobre o jogo de Domingo de determinado time. Pra mim isso é tudo muito chato, me limito a sorrir - mas um sorriso meio nervoso - de quem não sabe muita coisa sobre o assunto. E quando elas me perguntam pra que time eu torço eu falo “Nenhum”. A cara que eles fazem é patética. Não conseguem entender que futebol não é comigo. E quando insistem eu falo “Tá bom, eu torço pro Mandioquinha Futebol Clube”. Eles não entendem nada.<br />Hoje o dia tá foda. Nada pra fazer e um puta frio lá fora. Estou começando a desistir da internet e tudo que me resta é meu quarto com alguns livros amontoados, e estou sem saco pra livros hoje. Domingo: Dia do Eterno Tédio.<br />Domingos são perigosos, mas tem tanta gente lá fora se divertindo e eu aqui sentado sozinho, mas eu acho que é só por causa do futebol. Maldito futebol!<br />Depois de meia hora olhando pra tela do micro me dou por vencido e vou lá embaixo assistir a droga do jogo.<br />O jogo é entre o time de preto e branco e o time listrado de branco, preto e vermelho. Eu costumava torcer pro time listrado, mas isso foi há mais de dez anos. O time listrado está ganhando, mas não consigo me sentir feliz com isso.<br />Meu pai me alcança uma cerveja. Não que meu pai goste de futebol (nem é o time dele jogando, ele torce pra um time que joga todo de branco e vem do litoral), ele não gosta de não gostar de futebol, isso sim seria horrível pra ele, ainda mais nessa idade.<br />O time listrado faz mais um gol. Não sei o que fazer, mas meu pai parece gostar daquilo.<br />Minha mãe aparece dizendo que vai à igreja. Ela parece feliz. Penso comigo mesmo “se ao menos eu gostasse da igreja?”, ou melhor, “por que deus não vai com a minha cara?” Droga, não sei a resposta, mas entre ir pra igreja e ficar aqui sentado assistindo um jogo totalmente idiota e sem sentido pra mim eu prefiro ficar em casa, até porque eles não dão cerveja nas igrejas, e tá um puta frio lá fora. Interessante, se eles dessem cervejas em igrejas acho que eu até iria, mas...<br />A minha pouca atenção no jogo é desviada pela pequena discussão que surge entre meus pais. Minha mãe quer que meu pai a acompanhe à igreja e diz que se vendessem cervejas na igreja eles e os amigos dele de boteco iriam lá.<br />Hahahahahaha! Um pouco de humor não faz mal a ninguém.<br />- Tá rindo do que Daniel?<br />- Nada mãe, nada.<br />- E você? Por que não vem comigo pra...<br />Ela viu a cara que eu fiz e foi embora. Ela sabe que eu não sou fã de igrejas, nem de futebol.<br />O jogo acaba e o time listrado vence.<br />?<br />Então era só isso? Mas que bela merda.<br />Meu pai está contente e abre mais uma cerveja. Espero pra ver o que ele vai fazer em seguida. Ele deixa no mesmo canal e anuncia que vai assistir ao Domingão do Faustão. Isso eu não consigo agüentar.<br />Subo pro meu quarto, pois decidi que seria bom escrever o que me aconteceu hoje. Na escada eu paro e vejo a cara de satisfação do meu pai e lembro na cara de satisfação da minha mãe. Droga, se ao menos eu gostasse de futebol...Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-62101797050168055592007-05-26T13:23:00.001-07:002007-06-11T09:28:04.328-07:00SALVANDO O PEDRÃO DA PERDIÇÃOEstávamos eu e um amigo no bar de costume enchendo a cara, quando decidimos, como sempre, voltar pra casa andando.<br />Não sei ao certo quantas bebemos, mas foram muitas.<br />Estávamos perto do metrô Saúde falando sobre São Pedro, quando um cara dentro de uma agência bancária começou a gritar: “Me ajudem, por favor!”<br />Mas que porra é essa, pensamos.<br />- Seguinte, - disse o cara – eu vim aqui sacar dinheiro e a porta não quer mais abrir. Já estou aqui há quase uma hora.<br />Era uma sexta-feira.<br />E estávamos bêbados.<br />- Caramba Boi – disse meu amigo – a gente tem que ajudar esse cara, senão ele vai ficar aí preso até segunda-feira sem água e nem comida.<br />Eu fiz uma idéia mental do cara preso o final de semana inteiro lá dentro. Na minha cabeça eles encontrariam apenas os ossos dele, igual aos desenhos. Dei risada.<br />Meu amigo também. Acho que ele pensou a mesma coisa.<br />- E como a gente tira você dessa?<br />- Olha, eu vou confiar em vocês e vou passar meu cartão do banco por baixo da porta, daí vocês tentam passar ele aí no lugar indicado pra ver se essa coisa abre.<br />Ele nos passou o cartão. O nome dele era muito estranho, principalmente para pessoas bêbadas.<br />Pensamos muito se corríamos ou não com o cartão dele, mas não estávamos em condições de correr.<br />Decidimos apelidá-lo de “São Pedro”, ou “Pedrão” para os mais íntimos.<br />Tentamos passar o cartão e nada. De novo, e nada.<br />Já nos ocorria a idéia de que aquilo tudo fosse uma pegadinha. Se alguém nos viu na televisão, por favor me avise.<br />Depois de um tempo, e o cara estava realmente com cara de preocupado, resolvemos ligar para a polícia. Lá vou eu todo bêbado ligar pra polícia pra falar sobre um tal de “Pedrão” que ficaria preso o fim de semana inteiro caso as autoridades não fizessem alguma coisa. Ainda bem que eles não deram muita bola pra mim, ainda bem mesmo...<br />Quando vimos que policial nenhum apareceria, resolvemos apelar. Começamos a chutar a porta.<br />Não deu certo, mas depois de um tempo o alarme disparou. Bem, pelo menos assim alguém apareceria.<br />Mas ninguém apareceu. Só podia ser pegadinha...<br />O tal de Pedrão era um cara realmente gente fina, conversamos muito enquanto ele esteve em cativeiro. A conversa tava tão boa que eu resolvi me apoiar na porta com o corpo.<br />Foi então que...<br />Foi então que, como num passe de mágica, ao me encostar na porta a mesma se abriu.<br />Aquilo tudo foi muito estranho, foi mesmo. Olhamos prum lado, olhamos pro outro e meu amigo disse:<br />- É melhor dar o fora daqui antes que alguém apareça.<br />- Demorou. Vambora.<br />Mal vimos o Pedrão saindo dali. Nunca mais o vimos.<br />Bebemos um pouco mais e ficamos falando como salvamos o Pedrão da Perdição, na verdade, isso foi assunto pra madrugada toda.<br />Fomos ao bingo que fica próximo à estação São Judas. É sempre assim.<br />Meu amigo era novato, mas como os novatos são muito engraçados no bingo, não expliquei nada pra ele de como a coisa toda funciona a não ser que as cartelas custavam R$ 1,00.<br />Uma mulher começou a cantar as bolinhas.<br />Mesmo sabendo que isso iria acontecer eu achei o maior barato.<br />- Número 18.<br />- Essa eu tenho – disse meu amigo.<br />- 27.<br />- Essa eu tenho – de novo.<br />- 87.<br />- Essa eu tenho – e de novo.<br />- 21.<br />- Essa eu tenho. – disse meu amigo pela milésima vez - Cara, a gente vai ganhar essa porra. Eu tenho todas até agora.<br />É claro que tinha. As pessoas só jogaram aquele bingo com as avós onde você colocava um feijãozinho em cima do número. Esse era um pouco diferente. Mas o melhor ainda estava por vir.<br />- Linha! – Alguém gritou do outro lado do salão.<br />- Que lance é esse de linha? – perguntou meu amigo.<br />- Quando você fecha uma linha, você ganha a primeira premiação.<br />- Nossa, eu não sabia...<br />Mais números.<br />Expectativa.<br />- Linha! Eu fiz linha! – gritou todo feliz meu amigo.<br />O salão todo vaiou o coitado. Eu quase morri de tanto dar risada. É sempre bom ir com uns novatos ao bingo. Todo mundo fez isso da primeira vez, eu também fiz.<br />- Cara, - comecei a explicar – só vale a primeira vez.<br />- Droga.<br />Passado mais um tempo...<br />- 18.<br />- Nossa cara, - começou de novo meu amigo – agora sim a gente vai ganhar. A mulher falou 18 e esse número já estava marcado na minha cartela.<br />Por que será?...<br />Claro que não ganhamos nada. Saímos e ganhamos a rua.<br />Um dos lances de beber é que quando você fica parado e sentado a coisa toda piora. Piora mesmo. Saí do bingo sem nem saber meu nome direito. Liguei pra um amigo meu.<br />- Caralho cara – gritei – tô muito louco.<br />- Porra Boi! São duas da manhã.<br />- Sério? Foi mal.<br />- Beleza, vai dormir, vai.<br />- Saca só!<br />Pedi pro meu amigo me dar uma porrada.<br />- Caralho Boi pára com isso. – disse meu amigo no telefone.<br />- Eu não tô sentindo nada. – E não estava mentindo.<br />Me despedi e liguei pra outra pessoa. Era uma moça que eu andava ficando fazia um tempo, muito bonita e gostosa.<br />Ela atendeu.<br />Não sei muito bem o que eu disse pra ela, mas eram coisas que continham muito as palavras “eu te amo”, “casa comigo” e “você é o amor da minha vida”. Ela desligou. Não satisfeito eu mandei uma dúzia de mensagens pra ela (eu fiquei vermelho quando li as mensagens no dia seguinte). Ela nunca mais me ligou, e eu não a culpo.<br />Não me lembro de muita coisa depois disso. Só sei que no segundo seguinte já estávamos no Jabaquara. Foi uma das vezes em que eu pensei que não chegaria em casa e meu amigo estava achando o mesmo.<br />Quando estávamos quase desistindo uma luz no céu se abriu e do nada apareceu um primo do meu amigo de carro.<br />Estávamos salvo, mas eu custava a acreditar nisso.<br />- E aí, cara – disse o primo – tão indo pra casa?<br />- Nossa! - surpreendeu-se meu amigo – Você por aqui? Estamos salvos.<br />- Se liga cara – eu disse já caído no chão – esse cara quer é comer nossa bunda.<br />Sei lá de onde eu tirei isso, mas por alguma razão na minha cabeça naquele momento aquele era um perigo urgente.<br />Meu amigo me ajudou a entrar no carro e eu fiquei no banco de trás com a minha faca na mão esperando... Acho que o primo do meu amigo nunca soube o quanto perto estava de levar uma facada na julgular caso espirasse, ou fizesse qualquer movimento brusco. Por sorte, a dele, nada aconteceu e em poucos minutos eu estava em casa salvo e o mais importante: não violado.Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-37192837379705369102007-05-26T13:20:00.002-07:002007-06-03T08:56:33.500-07:00SOBRE PAIS E FILHOSBoi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4561998190750852824.post-5345365208521072712007-05-26T13:20:00.001-07:002007-05-26T13:20:46.157-07:00TEXTOS SOBRE TEXTOSMeu primeiro contato com os textos foi no primário, não me lembro bem em que série, mas foi um concurso em que a escola inteira participou. Tinha que se fazer um texto (acho que tinha algo a ver com cachorros, eu sempre gostei de cachorros) e quem ganhasse teria seu texto publicado em algum lugar. Fiz meu texto e ganhei. Depois de um tempo uma mulher foi até em casa me entrevistar e até me deu uma revista qualquer, de cachorros, claro. Mas isso não me empolgou nem um pouco para que eu continuasse com isso, também eu deveria de ter nem dez anos.<br />Mas eu era um cara sortudo, e pra mim isso bastava. Puta merda! Eu ganhava tudo que era coisa naquela escola, concursos que eu só colocava meu nome, sorteios, brinquedos, bolas, patins, de tudo um pouco. E tinha gente que gostava de mim, e gente que me odiava; e já naquela época eu não me achava grande coisa, deve ter sido do jeito que fui criado, sei lá, eu não sei dizer.<br />E essa bendita sorte me acompanha até hoje, e não é só pelo fato de eu estar vivo depois de ter feito uma porrada de merdas, mas vira e mexe eu acho alguma coisa na rua, no chão mesmo. Já achei celulares, blusas, uma vez no mesmo dia achei uma nota de cinqüenta reais e na volta achei uma corrente de ouro (eu fui descobrir que era de ouro depois) que valia uns duzentos reais. Achei cinqüenta reais no dia do meu aniversário. E fora que vira e mexe aparece algum depósito perdido na minha conta. Da sorte eu não posso reclamar. Vira e mexe eu esbarro nela, sempre sem querer. Ela me persegue.<br />E ganhar na mega-sena que é bom? Nada.<br />Lembro que ainda no primário, exatamente na quinta série (não sei agora se a quinta série é primário ou ginásio) eu e um amigo publicávamos histórias semanais. Era bem fácil a coisa, eu escrevia e ele desenhava. Era uma mistura de Street Fighter com Mamonas Assassinas, tudo uma grande bagunça, mas todos adoravam, as pessoas da nossa sala pediam por mais histórias, e nós fazíamos. Era tudo muito engraçado, tínhamos nossos poderes e nossas fraquezas, mas o melhor era que sempre acabávamos em algum bar da vida bebendo e comendo umas garotas sempre muito gostosas, e eu nem sabia direito o que era isso. Não me lembro por que paramos de escrever, mas acho que foi porque perdemos o caderno em que escrevíamos, sei lá, acho que alguém roubou. Gostaria de poder ver esse caderno de novo...<br />Bem, depois disso tudo no primário só me lembro de uma vez quando eu estava no terceiro colegial, ou seja, contava com dezessete anos, e a professora de português pediu para que escrevêssemos um texto referente às nossas férias. Eu falei pra ela:<br />- Com quem a Sra. Pensa que tá falando? Com criancinhas de dez anos? Depois de anos e anos estudando e dando aulas isso é o melhor que você pode fazer?<br />Procurei ajuda nos meus amigos.<br />Nada.<br />- Foda-se! Eu vou fazer essa merda.<br />O texto que eu apresentei era exatamente assim:<br /><br />Minhas férias<br /><br />Nas minhas férias eu comi, caguei e dormi.<br /><br />Tirei dez nesse texto. Ela disse que eu só escrevi o que precisava escrever.<br />Meus dois melhores amigos escreveram textos longos e profundos sobre o assunto. Eles tiraram nove. Agora era a vez deles reclamarem com a professora. Eles ficaram revoltados, e eu lá no meu canto com a sensação de serviço bem feito. Um deles até leu meu texto em voz alta pra sala. Todos deram risadas. E quem não daria?Boi Anselmohttp://www.blogger.com/profile/01760213362780857206noreply@blogger.com0