lunes, 10 de noviembre de 2008

MALDITO ARMÁRIO

Ok, ok, eu sei que tenho esse péssimo hábito de cutucar meu nariz. E faço isso todas as noites mesmo antes de eu saber o que eram noites. E o pior que, por pura força do hábito, acabo fazendo isso na frente dos outros sem perceber. É terapêutico, é relaxante. Não, não, o pior mesmo é que ao invés de fazer uma bolinha e jogar por aí (pessoas educadas limpam num papel higiênico) eu faço uma bolinha, brinco um pouco, e depois grudo em algum lugar.
Lembro de uma vez em que não fazia muito tempo estava trabalhando num escritório e estava sozinho na sala do chefe e coloquei uma estrategicamente no batente da porta, num lugar onde não deveria ser visto e saí. Só que a faxineira viu, correu pro banheiro e vomitou. Cinco minutos depois reunião. Meu chefe só juntou os homens, porque ele preferiu imaginar que mulher nenhuma teria feito aquilo. Daí ele começou:
- Eu não vou citar nomes – BOI – de quem fez isso. Eu não sei quem foi – BOI! Mas por favor, quem fez isso – BOI – nunca mais faça de novo.
Eu neguei até à morte. Não queria perder meu emprego por uma catota mal posicionada.
Uma vez, não faz muito tempo, achei umas fotos do meu 1° aniversário. Eu olhava praquele pirralho cabeçudo e magrelo e não conseguia me identificar. Poderia ser qualquer outra criança de 1 ano. Mas em uma das fotos eu estava meio que escondido atrás do meu pai, com cara de culpado, e com o dedo no nariz. Eu vi aquilo e gritei:
- Puta merda! Esse só pode ser eu!
Mas de noite que as coisas ficam realmente boas. Toda noite antes de dormir, já deitado e com as luzes apagadas, eu faço a limpeza noturna. É sempre nesse momento que brota alguma idéia na cabeça e lá vou escrever (como hoje, e já são 4 da manhã), mas antes disso eu sempre faço a bolinha, brinco um pouco e coloca atrás da cama. É sempre na cama, mas não só na cama, que eu as coloco. Todas as minhas camas têm a prova irrefutável que eu já passei por lá. Por todo lugar onde passo, se as pessoas virarem as cadeiras, encontrarão lembranças minhas. São as minhas obras primas.
Eu sempre soube que isso poderia me causar problemas com as mulheres, se elas descobrissem, é lógico, só que elas sempre descobrem.
Como da vez em que eu estava morando com uma mulher de quem eu realmente gostava. Ela já havia me visto cutucar lá dentro algumas vezes, mas depois da quarta ou quinta vez eu comecei a prestar atenção antes de enfiar o dedo. Ela nem fazia idéia de que eu continuava fazendo isso toda noite depois que ela dormia, mas por respeito eu sempre lavava a mão depois disso.
Até o dia em que ela queria reorganizar o quarto e eu estava ajudando.
- Tá, agora vamos mudar essa cama e colocá-la naquela parede.
- Agora?
- É. Agora.
- Mas ela está bem aqui onde está.
- Não, aí vai ficar o armário novo.
Maldito armário novo.
- Ok, então vai lá fora e pega uma pá e uma vassoura.
- Pra quê?
- Acredite em mim. Vai lá e pega, por favor.
- Tá bom...
Ela foi e voltou.
- Agora espera lá fora.
- O que você vai fazer?
- Só faz o que eu tô te pedindo, vai ser melhor pra você.
- Mas eu quero saber pra que isso.
- Te conto quando acabar. Te juro.
Virei a cama e lá estava. Anos e anos juntando caca e colocando atrás da cama todas as noites. Era realmente bonito. Cada marca representava um dia da minha vida desde que me mudara. Como os presos que fazem marcas na parede para contar os dias. Era um calendário feito pelos homens das cavernas feito por um dos seus remanescentes.
Onde está a merda do celular quando se precisa dele?
- Amor, pega meu celular em cima da tv. E sem perguntas. Daqui a pouco te explico.
Tirei uma foto que realmente ficou boa e comecei a limpeza com peso no coração. Ou as melecas ou a mulher da minha vida, pensei. Não peraí, não tem nem o que pensar aqui.
Raspei tudo com a pá, varri o chão e joguei tudo pela janela.
Abri a porta.
- Olha, porque eu realmente amo você, tem como pegar o veja e um pano?
Limpei tudo com cuidado pra não deixar nenhuma sobra. Parecia novo depois disso, a não ser pelo fato de ficarem muitas manchas onde antes havia catotas.
Coloquei a cama no lugar e abri a porta. Sabia que teria que contar a verdade.
- Sabe, amor...
(Pausa)
Daí contei basicamente a mesma história que está aqui.
Uma das coisas que eu realmente gosto nela é o fato de nunca saber como ela reagiria com as coisas que eu contava, era realmente imprevisível. Com coisas grandes ela olhava pra mim e dizia “ok, tudo bem”, como quando eu bati o carro ou perdi o emprego. Agora com coisas pequenas é “puta que pariu, Daniel! Você é foda!”. Como logo quando ela se mudou e viu o lixo do banheiro sem saco plástico e os papéis de merda jogados de qualquer jeito lá, muitos até olhando pra ela, foi o clássico “puta que pariu, Daniel! Você é foda!” Ou quando eu não arrumava a cama “puta que pariu...”, daí eu dizia:
- Amor, se eu pensasse em arrumar as coisas, em primeiro lugar eu já não teria bagunçado, simplesmente não faria sentido, não é mesmo?
Não colou.
Ou quando eu não lavava a louça.
- Amor, eu simplesmente fico aqui sentado esperando que esse tipo de coisa se resolva sozinho.
- Você não está esperando que eu lave, né?
Sim.
- Não, claro que não.
Mas ela sabia quem eu era desde a primeira vez que fui no apartamento dela anos atrás. Eu queria usar o banheiro e ela disse pra eu não entrar lá (eu imaginei que deveria ter uma pilha de roupas sujas, ou um casal de velhinhos esquartejados na banheira) que ela não queria que eu visse (mulheres também são meio porcas), daí eu saí do apartamento e bem ao lado da porta havia um vaso grande com uma planta, abaixei o zíper e mijei no chão, depois chacoalhei e voltei (é, mas acho que os homens são piores). Não me lembro de ter lavado as mãos.
(Voltando)
- Puta que pariu, Daniel! Você é foda!
Eu já imaginava.
Só que dessa vez a coisa foi realmente séria. Discutimos por um bom tempo até ela fechar a porta e eu ter que dormir no sofá.
Como um amigo meu uma vez sabiamente disse: “O homem que tem que escolher o sofá de casa, porque invariavelmente é lá que ele vai passar algumas noites.”
Se ela soubesse que a cama era só o depósito principal e que havia muitos outros espalhados pela casa, ela terminaria comigo. Decidi que na primeira oportunidade eu limparia tudo.
Apaguei as luzes, me deitei e fiz a limpeza noturna, colocando tudo depois em baixo do sofá. Tudo o que eu pensava era “maldito armário”.
Dormi.
Acordei de madrugada assustado. Era ela me cutucando toda manhosa pedindo pra eu dormir na cama com ela. Eu fui.
Não precisou de muito tempo pras coisas começarem a esquentar. E quando eu já estava de pau duro ela começou a chupar eu dedo. Eu sabia que seria dali pra baixo.
- Que gosto estranho.
- Putz, esqueci de lavar a mão.
- Puta que pariu, Daniel! Você é realmente um filho da puta!
Começou tudo de novo, só que dessa vez eu nem abri a boca, simplesmente não tinha argumentos. Ela colocou a roupa, pegou as chaves do carro e saiu. Voltando só alguns dias mais tarde pra pegar suas coisas.
Acabei sem mulher e sem melecas e depois concluí que a foto das catotas era melhor do que todas as fotos que eu ainda tinha dela. Bem, seria um longo caminho, mas faria tudo de novo.