A vida continuava a mesma, ou seja, sendo vivida. Fazia tempo que ela estava sendo um tanto quanto monótona, mas ficava freqüentemente bêbado, isso quando meus amigos estavam dispostos a pagar a minha parte. Eu tinha amigos generosos e de verdade, o que era ótimo.
Tinha desistido momentaneamente das mulheres - não, eu não sou viado -, é que como todas as últimas mulheres me chutaram pelo mesmo motivo (falta de futuro aparente), eu pensei que tinha que arrumar primeiro um emprego para não ter que ouvir a história mais uma vez. De qualquer maneira eu estava sem os dois,o que não era nenhuma novidade.
Percebi que estando desempregado as coisas da vida são mais simples, porque você tem menos opções. Por exemplo: Se você está com fome e vê aquela coxinha e aquele risole quente reluzindo num bar, você simplesmente continua andando porque não pode ter nenhum dos dois. Tudo fica mais simples quando se tem tão poucas opções. E isso vale pra mais um monte de coisas. O importante é ter comida no prato e um teto sobre a cabeça, o resto é luxo. E as mulheres? Bem, não há nada que R$ 20,00 não resolva. E com mais esse problema resolvido as coisas se tornam mais claras, assim você pode concentrar seus esforços em outras coisas. Como ler, ver bons filmes, masturbação desenfreada, ficar olhando pro teto o tempo que quiser, passear com o cachorro... essas coisas.
Já fazia quase dois anos que abandonei meu emprego “pra vida toda” para me dedicar mais a escrever, mas por algum desígnio divino isso não deu muito certo. De qualquer modo ficar em casa fazendo o que quiser é melhor do que fazer as coisas que os outros mandam você fazer. Isso tudo porque cheguei à brilhante conclusão de que se o dia tem 24 hs e você trabalha 8hs, você gasta 1/3 do seu dia trabalhando, mais 8hs que você em média dorme já são 2/3. Daí sobra apenas 1/3 do seu dia pra você comer, escovar os dentes, ir ao banheiro (coisas que eu só fazia no trabalho, porque em casa eu fazia isso de graça, mas no trabalho eles me pagavam pra cagar) e fora ter que ir e voltar do trabalho que leva um tempo precioso que você já não tem. As pessoas ainda têm o péssimo hábito de falar sobre trabalho mesmo quando não estão trabalhando. No final das contas você perde dias, semanas, meses e anos sem fazer nada do que realmente queria. Isso vale a pena? E pior ainda! Injúria das injúrias! A maior maldição de todas é quando chega a noite - numa das poucas horas que você tem pra você mesmo - e na hora de dormir o que acontece? Você sonha com a merda do trabalho! Eles ainda conseguem tirar as suas horas de sono. Eu juro que quando isso acontecia eu marcava hora extra. E ainda tem gente que estuda pra no final das contas conseguir um trabalho melhor. E tudo isso pra quê? Pro espertão chegar do seu lado e dizer “faço isso pra um dia me aposentar”. Claro que isso tudo faz muito sentido. E ainda tem os viciados em trabalho que mesmo depois de aposentados continuam trabalhando, porque “se eu parar de trabalhar, eu morro”. Já morreu faz tempo.
Mas não importa, eu tenho que trabalhar, afinal eu não nasci rico. Por isso acabava indo me humilhar por um emprego sempre que a sorte ou o azar permitiam.
Como num belo dia. Fui me encontrar com um amigo que fazia tempo eu não via. Quando ele me viu, exclamou: “Caralho, cara! Você tá parecendo um mendigo!” E não era pra menos. Minha roupa estava velha e com buracos, minha barba fazia tempo que estava correndo do barbeador, meus poucos cabelos estavam desgrenhados e o olhar meio longe de quem já havia bebido umas. Para melhorar minha situação eu precisava de um incentivo extra.
E aconteceu que ao invés de conseguir um emprego para depois conseguir uma mulher, uma mulher me encontrou antes. Simpatizei com ela logo de cara e um pouco mais tarde naquela mesma noite descobri que ela bebia pra caralho, cuspia no chão, falava “eu vou dar uma mijada” e era uma exímia dançarina de funk. Achei tudo isso simplesmente do caralho. Taí um ótimo motivo pra se conseguir um emprego, afinal de contas, bebida e motel não se consegue de graça.
Acontece que nos meses que se seguiram eu perdi a mulher e ainda estou desempregado. No final das contas nada disso vale a pena. Nem mulheres e nem trabalho.
martes, 17 de junio de 2008
Suscribirse a:
Enviar comentarios (Atom)
No hay comentarios:
Publicar un comentario