Eu sempre fui em motéis baratos, nada de banheira com hidromassagem, nem cama redonda, pensando bem nem espelhos no teto. Ficava com certa inveja dos meus amigos quando eles contavam histórias que continham frigobar ou teto solar. Mas sabia que um dia eu também poderia contar uma história dessas.
Conheci uma tal de Fabiana quando estava muito bêbado num canto qualquer de São Paulo. Bebemos muito, conversamos pouco e nos agarramos a noite inteira na pista. Tentei de tudo, mas naquela noite na pista não aconteceu nada, se eu tentasse mais eu poderia ser acusado de estupro. A noite acabou não sem antes de nos despedirmos meu amigo gritar do lado dela:
- Caramba, cara! Essa foi a melhorzinha dos últimos tempos!
Obrigado, meu caro amigo.
Eu achei que depois dessa ela nunca mais me ligaria, na verdade quando já estava no meio da semana eu estava agradecendo por ela não me ligar, porque eu não me lembrava da cara dela. Mas dos peitos eu lembrava.
Quinta-feira ela me ligou.
- Oi, é a Fabiana, lembra de mim?
- Claro – do nome eu me lembrava. – Tudo bem com você?
- Tudo sim, e você?
- Eu vou indo bem.
- Então, eu estava pensando se a gente poderia se ver de novo.
Meu deus, ela era bonita? Era feia? Eu não me lembrava de nada, tudo o que eu me lembrava era “Caramba, cara! Essa foi a melhorzinha dos últimos tempos!” Por via das dúvidas...
- Claro que podemos – respondi não tão prontamente. – Quando?
- Como eu trabalho só posso no fim de semana. Que tal no sábado?
- Por mim tudo bem. Você me liga?
- Ligo sim... Mas por curiosidade, você trabalha?
- Não.
...
- Tá bom, eu te ligo no sábado pra gente sair.
- Ok. Beijos.
- Beijos.
Agora não tem mais escapatória. É bom você rezar para que ela seja no mínimo gostosa.
Por sorte na sexta-feira eu recebi uma grana dos quatro dias e meio que eu trabalhei no último emprego. Boa parte eu transformei em bebidas e cigarros.
Sábado de manhã ela me ligou, mas como eu não me sentia bem eu não atendi. Depois de uma hora ela me ligou de novo.
- Nossa, demorou pra atender.
- Isso geralmente acontece quando eu estou dormindo.
- Você tava dormindo? Já são três da tarde.
- Eu acordo todo dia esse horário. Se acordo antes fico de mau-humor.
- Pelo visto nem vamos sair hoje...
- Posso te ligar quando eu acordar?
- Tá bom. Mas vê se não me liga muito tarde.
- Pode deixar. Vou voltar a dormir agora.
- Beijos.
Quase oito da noite.
- Oi, sou eu.
- Eu pensei que não fosse mais me ligar.
- É que eu tava dormindo. Agora tô me sentindo ótimo. Vamos sair?
- Claro. Pra onde você vai me levar?
Eu pensei num motel que muitos dos meus amigos já tinham ido. Era promissor, mas também era caro.
- Não sei, estou meio sem grana...
- Não tem problemas, a gente divide tudo.
Fiz as contas. Tava dentro do orçamento.
Marcamos num bar próximo ao motel em duas horas. Ela morava bem longe.
Hum... até ela chegar dava tempo de dormir mais um pouco. A noite seria longa.
Acordei atrasado. Merda! Será que ela ainda estaria lá? Preferi não ligar, ao invés mandei uma mensagem e disse que chegaria em trinta minutos. Cheguei em quarenta e cinco.
Incrível! Ela estava lá. O que essas mulheres não fazem por uma boa noite de sexo. Como já era tarde não havia tempo pra preliminares. Fui direto ao assunto.
- Então, como já está tarde é melhor descolarmos um lugar pra dormir.
- Você não quer beber um pouco antes?
- Claro.
Maldição! Ela era feia. No que meu amigo tava pensando quando disse que aquela era a melhorzinha nos últimos tempos? Provavelmente na última que ele me viu ficando. Ele tinha razão.
- Me vê uma maria-mole, por favor – pedi ao cara do bar.
- Nossa, pensei que fosse beber cerveja.
- A cerveja não me fez muito bem ontem.
Quanto mais bêbado melhor. Quanto mais bêbado melhor.
- Olha – disse o cara do bar – a gente já está fechando. Se quiser mais alguma coisa é melhor pedir agora.
- Me vê mais uma, por favor.
Do lado de fora do bar.
- Pra onde a gente vai agora? – ela perguntou.
- Pro outro lado da rua.
- No motel?
- É.
- Safado. Vamos então.
O quarto era realmente caro.
Então foi por aqui que todos eles já passaram? Nada mal, nada mal... Tv a cabo com filmes pornôs, espelhos no teto, e o melhor de tudo: hidromassagem com teto solar. Isso que é vida! O quarto seria a melhor coisa que me aconteceria na noite. Mas eu precisava beber mais, muito mais. Aquela não seria uma noite fácil.
Abri o frigobar. Só coisa boa. Ataquei o whisky.
- Mas depois a conta vai ficar muito cara – ela disse.
- Relaxa. É só colocar urina nas garrafinhas de whisky e água nas de vodca. Meus amigos sempre fazem isso.
Quanto mais bêbado melhor. Quanto mais bêbado melhor.
- Já que você diz.
- Na verdade eu não tive tempo de tomar banho em casa. Vou tomar um banho rapidinho e já volto. Não gosto de fazer essas coisas fedido.
- Quer que eu vá com você?
- Não precisa baby. Vá se aprontando que eu já volto.
Corri pro banheiro, mas não sem antes colocar umas quatro garrafinhas de bebidas no meu bolso da calça. Ela nunca entenderia que eu precisava ficar sozinho naquela banheira com teto solar que eu sempre sonhei.
Abri as torneiras, tirei a roupa, acendi um cigarro e abri o teto solar. Era como eu imaginava, era bom mesmo não sendo porra nenhuma. Bebi as quatro garrafinhas numa seqüência que nem eu acreditei. O cigarro estava quase no fim.
- Você tá bem aí dentro?
- Claro, já estou saindo.
Bebi o restinho que tinha sobrado numa das garrafinhas, respirei fundo pra não vomitar e saí.
Quanto mais bêbado melhor. Quanto mais bêbado melhor.
Ela estava pelada na cama, até que não era tão ruim assim. A bebida estava realmente ajudando.
Deitei na cama e fizemos o que estávamos lá pra fazer. Não muito, na verdade. Depois de dez minutos comecei a achar que tinha bebido demais e talvez não conseguisse, não naquela noite.
- Vamos, benzinho, você consegue.
- Eu estou tentando.
- Tá indo bem, não pára.
- Droga!
- O que foi?
- Preciso ir ao banheiro.
Vomitei. Lavei o rosto e depois voltei.
- Tá se sentindo bem?
- Agora estou melhor.
Agora sim. Agora estava indo bem.
Fomos até o fim. Foi bom, mas sabia que poderia esquecer qualquer outra tentativa naquela noite. Dormi enquanto ela foi ao banheiro tomar banho.
Quando ela voltou ficamos ainda um pouco deitados juntos, mas quando eu percebi que ela estava dormindo eu me levantei e fui pra banheira de novo com duas latas de cerveja que eu tinha trazido de casa e colocado pra gelar no frigobar.
Fiquei lá deitado durante um tempo olhando pro céu e fumando alguns cigarros. Depois de um tempo ela levantou e bateu na porta.
- Você tá bem aí?
Não respondi. Acendi um cigarro.
Consegui ouvir ela se trocando e depois gritar “tchau, seu imbecil” antes de bater a porta.
Mas que droga. Aquela noite era minha, não dela. Estava em paz e não queria dividir aquilo com ninguém. A noite estava linda.
Depois de um tempo pensei “droga, eu não tenho mais dinheiro”, mas logo em seguida eu me lembrei “tudo bem, cara, é só encher as de whisky com mijo e as de vodca com água”. Então estava tudo bem.
sábado, 26 de mayo de 2007
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