sábado, 26 de mayo de 2007

SALVANDO O PEDRÃO DA PERDIÇÃO

Estávamos eu e um amigo no bar de costume enchendo a cara, quando decidimos, como sempre, voltar pra casa andando.
Não sei ao certo quantas bebemos, mas foram muitas.
Estávamos perto do metrô Saúde falando sobre São Pedro, quando um cara dentro de uma agência bancária começou a gritar: “Me ajudem, por favor!”
Mas que porra é essa, pensamos.
- Seguinte, - disse o cara – eu vim aqui sacar dinheiro e a porta não quer mais abrir. Já estou aqui há quase uma hora.
Era uma sexta-feira.
E estávamos bêbados.
- Caramba Boi – disse meu amigo – a gente tem que ajudar esse cara, senão ele vai ficar aí preso até segunda-feira sem água e nem comida.
Eu fiz uma idéia mental do cara preso o final de semana inteiro lá dentro. Na minha cabeça eles encontrariam apenas os ossos dele, igual aos desenhos. Dei risada.
Meu amigo também. Acho que ele pensou a mesma coisa.
- E como a gente tira você dessa?
- Olha, eu vou confiar em vocês e vou passar meu cartão do banco por baixo da porta, daí vocês tentam passar ele aí no lugar indicado pra ver se essa coisa abre.
Ele nos passou o cartão. O nome dele era muito estranho, principalmente para pessoas bêbadas.
Pensamos muito se corríamos ou não com o cartão dele, mas não estávamos em condições de correr.
Decidimos apelidá-lo de “São Pedro”, ou “Pedrão” para os mais íntimos.
Tentamos passar o cartão e nada. De novo, e nada.
Já nos ocorria a idéia de que aquilo tudo fosse uma pegadinha. Se alguém nos viu na televisão, por favor me avise.
Depois de um tempo, e o cara estava realmente com cara de preocupado, resolvemos ligar para a polícia. Lá vou eu todo bêbado ligar pra polícia pra falar sobre um tal de “Pedrão” que ficaria preso o fim de semana inteiro caso as autoridades não fizessem alguma coisa. Ainda bem que eles não deram muita bola pra mim, ainda bem mesmo...
Quando vimos que policial nenhum apareceria, resolvemos apelar. Começamos a chutar a porta.
Não deu certo, mas depois de um tempo o alarme disparou. Bem, pelo menos assim alguém apareceria.
Mas ninguém apareceu. Só podia ser pegadinha...
O tal de Pedrão era um cara realmente gente fina, conversamos muito enquanto ele esteve em cativeiro. A conversa tava tão boa que eu resolvi me apoiar na porta com o corpo.
Foi então que...
Foi então que, como num passe de mágica, ao me encostar na porta a mesma se abriu.
Aquilo tudo foi muito estranho, foi mesmo. Olhamos prum lado, olhamos pro outro e meu amigo disse:
- É melhor dar o fora daqui antes que alguém apareça.
- Demorou. Vambora.
Mal vimos o Pedrão saindo dali. Nunca mais o vimos.
Bebemos um pouco mais e ficamos falando como salvamos o Pedrão da Perdição, na verdade, isso foi assunto pra madrugada toda.
Fomos ao bingo que fica próximo à estação São Judas. É sempre assim.
Meu amigo era novato, mas como os novatos são muito engraçados no bingo, não expliquei nada pra ele de como a coisa toda funciona a não ser que as cartelas custavam R$ 1,00.
Uma mulher começou a cantar as bolinhas.
Mesmo sabendo que isso iria acontecer eu achei o maior barato.
- Número 18.
- Essa eu tenho – disse meu amigo.
- 27.
- Essa eu tenho – de novo.
- 87.
- Essa eu tenho – e de novo.
- 21.
- Essa eu tenho. – disse meu amigo pela milésima vez - Cara, a gente vai ganhar essa porra. Eu tenho todas até agora.
É claro que tinha. As pessoas só jogaram aquele bingo com as avós onde você colocava um feijãozinho em cima do número. Esse era um pouco diferente. Mas o melhor ainda estava por vir.
- Linha! – Alguém gritou do outro lado do salão.
- Que lance é esse de linha? – perguntou meu amigo.
- Quando você fecha uma linha, você ganha a primeira premiação.
- Nossa, eu não sabia...
Mais números.
Expectativa.
- Linha! Eu fiz linha! – gritou todo feliz meu amigo.
O salão todo vaiou o coitado. Eu quase morri de tanto dar risada. É sempre bom ir com uns novatos ao bingo. Todo mundo fez isso da primeira vez, eu também fiz.
- Cara, - comecei a explicar – só vale a primeira vez.
- Droga.
Passado mais um tempo...
- 18.
- Nossa cara, - começou de novo meu amigo – agora sim a gente vai ganhar. A mulher falou 18 e esse número já estava marcado na minha cartela.
Por que será?...
Claro que não ganhamos nada. Saímos e ganhamos a rua.
Um dos lances de beber é que quando você fica parado e sentado a coisa toda piora. Piora mesmo. Saí do bingo sem nem saber meu nome direito. Liguei pra um amigo meu.
- Caralho cara – gritei – tô muito louco.
- Porra Boi! São duas da manhã.
- Sério? Foi mal.
- Beleza, vai dormir, vai.
- Saca só!
Pedi pro meu amigo me dar uma porrada.
- Caralho Boi pára com isso. – disse meu amigo no telefone.
- Eu não tô sentindo nada. – E não estava mentindo.
Me despedi e liguei pra outra pessoa. Era uma moça que eu andava ficando fazia um tempo, muito bonita e gostosa.
Ela atendeu.
Não sei muito bem o que eu disse pra ela, mas eram coisas que continham muito as palavras “eu te amo”, “casa comigo” e “você é o amor da minha vida”. Ela desligou. Não satisfeito eu mandei uma dúzia de mensagens pra ela (eu fiquei vermelho quando li as mensagens no dia seguinte). Ela nunca mais me ligou, e eu não a culpo.
Não me lembro de muita coisa depois disso. Só sei que no segundo seguinte já estávamos no Jabaquara. Foi uma das vezes em que eu pensei que não chegaria em casa e meu amigo estava achando o mesmo.
Quando estávamos quase desistindo uma luz no céu se abriu e do nada apareceu um primo do meu amigo de carro.
Estávamos salvo, mas eu custava a acreditar nisso.
- E aí, cara – disse o primo – tão indo pra casa?
- Nossa! - surpreendeu-se meu amigo – Você por aqui? Estamos salvos.
- Se liga cara – eu disse já caído no chão – esse cara quer é comer nossa bunda.
Sei lá de onde eu tirei isso, mas por alguma razão na minha cabeça naquele momento aquele era um perigo urgente.
Meu amigo me ajudou a entrar no carro e eu fiquei no banco de trás com a minha faca na mão esperando... Acho que o primo do meu amigo nunca soube o quanto perto estava de levar uma facada na julgular caso espirasse, ou fizesse qualquer movimento brusco. Por sorte, a dele, nada aconteceu e em poucos minutos eu estava em casa salvo e o mais importante: não violado.

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